sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EX-BISPO ANGLICANO DE LONDRES CONVERTE-SE AO CATOLICISMO


  Não é fato comum que o bispo anglicano de Londres se converta ao Catolicismo. Mas este é o caso de mons. Graham Leonard, que neste último fim de semana participou de um congresso realizado na capital espanhola pela Associação de Conversos ao Catolicismo "A Caminho de Roma". Em entrevista concedida à ultima edição do semanário "Católicos do Século XXI", revela os motivos que o levaram a dar este surpreendente passo:
    P: Qual é a origem da sua conversão?- Minha conversão ao Catolicismo vem de muito tempo, não foi de repente. Há muitos anos, experimentei uma grande preocupação ante aos acontecimentos que ocorriam naquela que era a minha Igreja, a Igreja Anglicana. Sempre defendi que a fé é um dom de Deus e que ela não é fruto das descobertas individuais que cada um pode fazer. Como membro da Igreja Anglicana, me preocupava muito em que nela se dava cada vez mais importância às interpretações particulares e individuais da fé. Interpretações que dependiam da situação, do ambiente, do que a Igreja tivera por bem decidir e opinar em certo momento.
    P: Essa queda para o subjetivismo, para o relativismo, o senhor percebeu apenas nos últimos anos ou chegou a dar conta de que o problema estava enraizado desde o nascimento da Igreja Anglicana?
    - Na realidade, sempre foi assim desde a Reforma do século XVI. Naquela época, quando nasceu a Igreja Anglicana, a fé foi expressa como uma tentativa de resposta para a situação política criada por Henrique VIII. O professor Powicke assim afirmou, com clareza: "O que pode-se dizer definitivamente da Reforma na Inglaterra é que esta foi um ato de Estado". A Igreja na Inglaterra encontrava-se à mercê e submissa aos objetivos políticos da monarquia Tudor. Para ele, deixou de ser a Igreja Católica na Inglaterra, passando a ser a Igreja da Inglaterra.
    P: Isto ocorreu outras vezes?
    - Na realidade, este processo de adaptação da fé às necessidades do momento vem se repetindo desde então. O conteúdo doutrinário da fé dependeu, durante muitos anos, da interpretação das fórmulas realizada pelos juristas. Nos últimos anos, tem dependido do Sínodo Geral. Segundo a Conferência de Lambeth - uma espécie de Sínodo de todas as igrejas anglicanas do mundo - cada Igreja em cada país está livre para determinar como deve entender a sua fé. Quando me dei conta disto tudo, compreendi também que já não poderia seguir exercendo meu ministério sacerdotal nestas condições.
    P: Foi determinante o fato da Igreja da Inglaterra aceitar o sacerdócio feminino?
    - Isso foi detonante, pois representou o estabelecimento de uma nova comunhão, segundo a qual se requer como necessário crer em algo que a Igreja jamais requereu como matéria de fé. Foi um passo adentro desse processo de subjetivismo, segundo o qual cada um é livre para crer no que quiser. Já ocorrera antes com a fé na ressurreição.
    P: O senhor é casado, como é costume no clero anglicano. Como a sua esposa acolheu a decisão de sua conversão, de que pretendia renuncia à uma vida confortável como bispo de Londres e passar para uma situação incerta?
    - Ainda antes de mim, ela queria ser católica, mas nunca me disse nada para não não pressionar-me, em razão da minha responsabilidade dentro do Anglicanismo. Ela, assim como eu, está muito feliz desde que optamos pelo Catolicismo.
    P: E seus filhos? Como acolheram tais decisões?
    - Temos dois filhos e cinco netos. Aceitaram a nossa decisão e a respeitaram; porém, permanecem como anglicanos.
    P: Sentem-se acolhidos na Igreja Católica?
    - Muito bem, sem dúvida alguma.
    P: E os sacerdotes anglicanos que, como o senhor, se converteram ao Catolicismo? Estão contentes?
    - Sim, sem dúvida. Não conheço nenhum que não esteja satisfeito.
    P: Em que trabalham após a conversão?
    - Fazemos o mesmo que qualquer outro sacerdote católico: nas paróquias, como capelães nas universidades, nos hospitais, como professores. Por exemplo, um deles, que era sacerdote da diocese de Londres quando eu era seu bispo, é agora vigário geral da diocese católica de Westminster. Em meu caso concreto, a nomeação de prelado honorífico que recebi de Sua Santidade tem sido vista pelos ex-anglicanos como sinal de aprovação do Santo Padre às boas-vindas que já tinha recebido localmente. Em meu ministério, concentro-me em realizar retiros espirituais com os clérigos diocesanos, a convite do bispo de Birmingham, por exemplo. Há algumas semanas, terminei um retiro com os beneditinos da Inglaterra.
    P: Alguns, inclusive na Igreja Católica, pedem para que o primado do Papa deixe de ser jurisdicional e passe a ser apenas um primado honorífico. Qual a sua opinião a respeito?
    - O essencial da primazia petrina não é a honra, mas a jurisdição. E isso porque se trata de defender a verdade, os direitos da verdade. O primado do Papa é essencial para a Igreja porque é de instituição divina. É essencial também para alcançar a verdadeira unidade entre as Igrejas.
    P: Por quê?
    Porque a unidade, para que seja autêntica, somente pode estar fundamentada na verdade. É responsabilidade do Papa assegurar esta unidade na verdade.
    P: O senhor crê que devam ser feitas concessões no diálogo ecumênico para se alcançar mais facilmente a unidade?
    - Não creio que se deva falar em concessões. A verdade não se descobre nas negociações, mas na obediência.
    P: Como o senhor enxerga a crise que passa a Igreja Católica?
    - Sobre a crise da Igreja Católica, depende do ponto de vista, pois nela existe muitas coisas positivas, como os novos movimentos e a revitalização que vêm fazendo nas paróquias. Basicamente, como crise oriunda dos poderes do mal, o que se tenta é difundir o subjetivismo como método para arruinar e destruir a autoridade divina. Eu confio totalmente e sempre no poder amoroso de Deus e em seus objetivos para a humanidade. Confio em Deus totalmente e porque creio em Deus, creio na Igreja que ele nos deu e por isso tenho esperança. É esta Igreja que deve dar cumprimento aos planos de Deus para a salvação do homem.

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