terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MARIA NO PLANO DE DEUS

          Paz e Bem!                
               
  "Necessário seria compreender quão sublime é a grandeza de Deus, para também se compreender a altura a que Maria foi elevada. Bastará, pois, somente dizer que Deus fez desta Virgem sua Mãe, para entender com isso que não lhe era possível exaltá-la mais do que a exaltou." (Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Santa Igreja)

    Amados irmãos, é preciso conhecer para amar verdadeiramente. Como já escrevi sobre a consagração Virgem Maria com o tema; “Ser de Maria para ser inteiramente de Jesus”. Hoje, desejo mostrar a grande função e missão de Maria no Plano de Deus.
 A Bíblia fala muito pouco de Maria a mãe de Jesus, mas o pouco que dela se fala preenche, com intensidade, todo o silêncio que os evangelhos fazem a respeito Dela. É impossível falar de Jesus e não querer conhecer aquela que trouxe em seu ventre o salvador da humanidade. Isto é tão verdadeiro que podemos ver no evangelho de Lucas quando uma mulher, no meio da multidão, interrompe o discurso de Jesus e fala em alta voz; “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os seios que te amamentaram!” (Lc;11, 27). Para alguns, Jesus parece desprezar a ação daquela mulher que, em alta voz, reconheceu a grandeza de Maria perante a multidão. Se Ele assim o fizesse estaria contra a própria ação do Espirito Santo que, em Maria “cheia de graça” diz; "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc;1,48). Onde também, no mesmo evangelho de Lucas Isabel cheia do Espirito Santo, com um grande grito exclamou; “Bendita és tu entre todas as mulheres” (Lc 1, 48). Jesus, nosso Divino mestre, aproveita todo o momento para ensinar e nessa ocasião fala a todos que, primeiramente bem-aventurados são aqueles que ouvem a sua palavra e a observa, ou seja, neste sentido Ele afirma, nas entrelinhas, que Maria é antes de tudo bem-aventurada porque foi a primeira que acreditou (Lc; 1,45) entregou a sua vida inteiramente a palavra de Deus (Lc; 1,38). Há outras passagens que também podem causar estranheza à maneira quase ríspida a que Jesus referiu-se à sua mãe, como na passagem narrada em Mateus 12, 46-50. Seria possível Jesus ter desprezado a sua própria mãe? Claro que não! Jesus jamais iria contra o quarto mandamento; “honra pai e mãe”. Jesus era obediente aos seus pais como nos mostra o evangelho de Lucas: “Em seguida, Jesus desceu com os seus pais a Nazaré e lhes era submisso”. (Lc 2, 51)
  As ações e atitudes de Jesus com sua mãe aos 12 anos no templo de Jerusalém, como é narrado em (Lc 2, 41-52), a “perda” de Jesus e seu reencontro após três dias, prefigura o momento crucial de sua morte e ressurreição ao terceiro dia. Jesus já preparava sua mãe - na aflição do desencontro no templo- para a grande dor da cruz. Jesus educava a sua mãe para a missão que definitivamente ela teria que assumir. Maria tinha que “quebrar” o cordão umbilical materno, protetor e cuidadoso que tinha com seu filho. Jesus já demonstrava claramente naquele momento que ele tinha que cuidar das coisas de Deus e Maria teria que estar pronta para o grande e glorioso momento da cruz. A anunciação do Anjo Gabriel e o sim incondicional de Maria, estava apenas começando. Este sim vinha inaugurar, na “plenitude dos tempos” (Gál 4,4), a promessa da libertação que já era tão esperada entre os judeus, a chegada do messias Salvador do Mundo, que pelo livre consentimento de uma mulher se faz carne e habita no meio de nós (Jo 1, 14). Mas, para “firmar-lhe um corpo” Deus quis a cooperação de uma criatura. Ao acolher a anuncio do Anjo a Virgem Maria é acumulada de inúmeras graças (Lc 1, 28-30) e pelo seu sim, ela é inserida no mistério da própria trindade, tornando-se assim; filha de Deus Pai, mãe de Deus filho e esposa fiel do Deus Espírito Santo. 
   Como entender a importância da virgem Maria nos plano de salvação e sua intercessão se a própria Bíblia não é direta nesta afirmação?
Devemos unicamente respeitar Maria, pois Deus poderia ter escolhido qualquer pessoa para ser a mãe de seu filho? 
   Muitos fazem essas e outras perguntas acreditando que a resposta virá pelo entendimento racional, ou que a Bíblia deveria nos fornecer de forma direta tal ensinamento. Se assim fosse, esse grande acontecimento não seria mistério. É bom entendermos que antes da própria Bíblia existir, em sua forma escrita, a igreja já existia. Os apóstolos logo depois de pentecostes no cenáculo de Jerusalém, cheios do espírito santo e movidos pelo mesmo espírito, tinham a missão primeira de anunciar Jesus Cristo vivo e ressuscitado conforme o mandato do Senhor: “ide pelo mundo inteiro e pregai o evangelho a toda criatura”. A urgência de tal anúncio e demostrado pelo apóstolo Paulo na carta aos Coríntios quando afirma: “Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho” (ICor; 9, 16). Deus quis ocultar e preservar Maria, para que o seu divino filho fosse reconhecido, amado e adorado como único Senhor. Era tão profunda a humildade de Maria que ela poderia assim dizer; “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30). Ela segue o exemplo de seu Divino filho, onde os humildes serão exaltados, Maria escolheu se esconder aos olhos do mundo para ser vista unicamente por Deus. “Ele olhou para humildade de sua serva”... (Lc 1, 48). A Escritura diz que “o Senhor é excelso, contudo atenta para o humilde; mas ao soberbo, conhece-o de longe” (Salmo 138, 6). Aconteceu em Maria o que diz o apóstolo Pedro; “Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido.” (1 Pd 5, 6). O próprio Jesus, “assumindo a forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou a mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. (Fl 2, 8-11)  
   Obedecendo a vontade do Pai Jesus entrega-se inteiramente diante dos homens humilhando-se até a morte. “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas chagas fomos sarados”.
(Isaías 53:5) E Deus o exaltou acima de todo o nome e não há outro nome e nem jamais existirá, esta é a fé que a Igreja professa claramente; “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12). Então, que importância tem Maria se a Bíblia deixar explícito que o único nome entre todos é Jesus e só ele basta para nossa salvação?  
    Sabemos que Jesus é o único Senhor e Salvador, em nenhum instante a Igreja católica disse o contrário sempre afirmou essa verdade. Temos que entender que em Maria Deus produziu a obra perfeita da salvação, pela graça da Cruz, ou seja, pelo mérito de Jesus Cristo Redentor e não por qualquer coisa que ela tenha feito ou por poder próprio dela. Maria de maneira nenhuma é uma Salvadora. Por não entender a palavra de Deus e o próprio ensinamento da santa madre Igreja, é que muitos caem no erro e levam outras tantas pessoas ao mesmo erro. Por isso que Pedro disse que nas Escrituras “há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2Pd 3, 16). O Concilio Vaticano II ensinou na Constituição “Dei Verbum”, que “o ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja” (n.10). “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal” (II Pedro 1: 20).Por tanto, era necessário que se cumprisse todas as coisas que o Senhor Deus tinha anunciado pelos profetas antes de Jesus. A urgência da atividade missionária dos Apóstolos era de anunciar a boa nova da salvação que é o próprio Jesus.
Para entendermos a missão de Maria vamos primeiramente compreender; O que é uma missão, o significado da missão na Bíblia e na vida dos profetas e apóstolos.
Podemos definir missão como o propósito de existência, ou melhor, a razão principal de uma comunidade de fé existir, pois tudo deve ser feito em função da missão que foi confiada a pessoa ou a comunidade. Pois bem, vamos começar com o primeiro livro da Bíblia em Gêneses. Qual foi a missão de Abraão? Abraão recebe de Deus uma missão, aos 75 anos de idade, morando em Ur dos Caldeus, sua cidade natal, onde Deus o chamou dizendo: "Saia da tua terra e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Farei de te uma grande nação, e te abençoarei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção" (Gn 12, 1-3). Por acreditar nas promessas de Deus ele é reconhecido como herói da fé e pai de uma grande nação. Assim, Abraão com sua esposa Sara, começa a caminhar com o povo para a terra prometida, conforme Deus havia lhe dito.  Deus, por diversas vezes testa a fé de Abraão, mas este se mostra fiel a Deus que escolheu para ser seu guia. Primeiro, pela dificuldade que Abraão teve de ter seu descendente; depois, Deus lhe pede, em sacrifício o seu primogênito. O caminho de Abraão não foi fácil, ele precisou ter muita fé e confiança, para seguir sua missão. Abraão chega com o povo até a terra prometida, Canaã na região da Palestina (Israel). Lá, a descendência de Abraão vai crescendo e dando lugar a novos povos. Abraão morreu aos cento e setenta e cinco anos, tendo passado um século na terra de Canaã (Gn 25 7-8). A Bíblia deixa claro que depois que Abraão cumpriu totalmente a missão que Deus o confiou ele morreu. No livro do Êxodo temos a figura de Moisés que foi escolhido por Deus para uma missão muito difícil; libertar o povo de Deus da escravidão do Egito. Os filhos de Israel gemiam e lamentavam-se ao ponto de o próprio Moisés, que tinha sido adotado pela filha do faraó, se revoltasse e agredisse um egípcio, tendo que fugir para o deserto. No deserto, quando estava pastoreando as ovelhas de seu sogro, Moisés tem um encontro com Deus que o revela a sua missão; “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”. “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores (Êx.3, 6-9). Moisés Libertou o povo hebreu da escravidão no Antigo Egito, instituiu a Páscoa Judaica e depois guiou seu povo através do deserto durante quarenta anos. Não pode entrar na terra prometida contemplando-a de longe do alto monte Nebo, abençoou seu povo e após ter terminando a sua missão morre, na terra de Moab com a idade de cento e vinte anos. No novo testamento temos o último dos profetas João Batista que não fracassou em sua missão. Conforme a profecia em Malaquias 3, 22; Deus enviaria o profeta Elias, antes que viesse “o grande e terrível dia do Senhor”, para converter o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos seus pais. Ele viria anunciando o reino de Deus e o Messias, para que o Senhor não ferisse a terra com maldição. Também no livro de Isaias 40,1-5; profetizava João como “a voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas vereda ao nosso Deus.” Após cumprir sua missão, como todos sabem, João Batista morreu degolado.
José, o esposo de Maria que era considerado justo (Mt 1, 19) tinha a missão de ser o defensor, protetor e guardião da família, tanto que sempre quando a vida de Jesus era ameaçada o anjo do Senhor lhe aparecia em sonhos dizendo o que ele deveria fazer(Mt 2, 19-20). A Bíblia não relata a morte de José, a sua última aparição na Bíblia foi quando Jesus tinha seus 12 anos no templo de Jerusalém. Acredita-se que ele já era um velho e morreu antes da Paixão de Cristo, pois Jesus ao assumir a missão já não precisava de cuidados.
   O profeta Simeão, que era justo e piedoso, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele. A missão de Simeão está bem clara, fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor (Lc 2, 26). Quando Simeão recebe o menino em seus braços ele diz: “Agora Senhor, conforme a tua promessa, pode deixar teu servo ir em paz” (Lc 2, 28-29). Então, podemos concluir que, o cumprimento da missão na Bíblia era a razão de existência dos profetas do antigo e novo testamento. O próprio Jesus consciente de sua missão e da hora exata de realiza-la em Caná da Galiléia (Jo 2, 4) afirma que sua hora ainda não chegou. Já no horto das Oliveiras Ele convida os discípulos a vigiar e orar, pois a hora de se glorificado tinha chegado. (Mt 26, 45)
Vamos agora entender qual é o papel e missão de Maria no plano de Salvação de seu Divino filho Jesus Cristo. Maria foi preparada por Deus de forma pedagógica, ela não sabia de tudo, o anjo não contou tudo o que iria acontecer, tanto que ela pergunta ao anjo: “como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?”, mas mesmo sem entender ela se lança nas mãos de Deus dizendo; “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,37). Ela é obediente diante do mistério não entendido sabendo guardar tudo silenciosamente. (“conservava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”, Lc 1, 18).
   Deus já havia pensado em Maria para ser a mãe do salvador como nos diz o livro dos provérbios "A sabedoria edificou para si uma casa"(Prov 9). Qual é esta sabedoria e que morada a construiu para seu uso? São Bernardo nos responde: "Esta sabedoria que era de Deus e que era Deus, vinda a nós do seio do Pai, construiu para si uma casa, e esta casa foi a Virgem Maria, sua Mãe." A Santíssima Virgem é verdadeiramente a casa de Deus, ou melhor, o palácio ou a corte real onde o Filho do Rei Eterno, revestido de nossa carne, fez sua entrada neste mundo. “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Is 7,14).
Em gêneses, o primeiro livro da Bíblia, podemos encontrar nossos primeiro pais; Adão e Eva. Por meio deles, surgir à criação e a origem da humanidade. Eva, a mãe de todos os viventes, pela sua desobediência deixa entrar no mundo o pecado destruindo toda harmonia com Deus e a criação, reduzindo a história ao caos. O pecado veio ao mundo pela desobediência de Eva. Tudo perdido? Não. Deus promete uma descendência que há de esmagar a cabeça da serpente infernal. (Gn 3, 15)
É importante salientar que a frase “descendência da mulher” é uma narração muito incomum. Normalmente as pessoas falavam do descendente do homem ou o pai, não se achava o uso do termo descendente da mulher, principalmente no antigo Oriente onde a Bíblia foi escrita, sempre consideravam os descendentes como filhos e filhas do pai. Podemos ver, por exemplo, que todas as genealogias na Bíblia são alinhadas aos homens e não as mulheres. Porém, em algumas genealogias bíblicas, vemos também mulheres citadas que, normalmente, eram incluídas quando se destacavam de alguma forma na sociedade ou na história narrada. É o caso da genealogia de Jesus Cristo em Mt 1. 1-17, onde constam nomes de algumas mulheres. A genealogia tem um sentido muito especial nas escrituras hebraicas, pois o povo judeu tem a sua história ligada a uma origem familiar; são todos descendentes de Abraão e Sara. Mais existe um mistério também, vamos revelar através da Torá e da história do povo judaico. Muitas vezes nós encontramos na Torá genealogias inteiras por quê? Estas genealogias traçam a linhagem das famílias do povo de Israel, era importante para saber a origem das tribos, permite provar a ascendência judaica.
  Por que Deus quis utilizar a figura da mulher no primeiro livro da Bíblia? Assim nos ensina o Concilio do Vaticano II: “quis, porém, o Pai das misericórdias, que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de Seu Filho, para que, assim como contribuiu para a morte, a mulher também contribuísse para a vida” (Lumen Gentiun, 56). Se toda árvore genealógica, como vimos, tem o homem como personagem principal e centro de todos os seus descendentes, por que em gêneses Deus colocar a mulher nesta “briga” com o mal? Esta inimizade foi profetizada desde o inicio da Salvação: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn3, 15)
   A mulher na Bíblia tem uma importância muita grande, ela tem a missão de perpetuar a espécie humana, ela e gerador e formadora de uma nova descendência. Maria contribui com o plano de Deus na qual esta inserida na missão salvadora de seu Divino filho. A cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém deixa claro, pela boca do profeta Simeão, que Jesus realizaria a salvação de Israel. A mãe de Jesus com certeza nunca se esquecerá do encontro com Simeão no Templo de Jerusalém, quando levou o Menino para circuncisão. Lembrava, sobretudo, de suas palavras proféticas: "Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações" (Lc 2, 34-35)
   Ao profetizar a missão de Jesus, Simeão anuncia que a dor transpassada pelo coração de Maria a faria participante do mistério da cruz e que Ela assim contribuiria, unificando a sua dor ao de Seu divino Filho, para que os corações e pensamento de muitos pudessem se abrir ao mistério salvador de Jesus Cristo. Por tanto, é claro e certo afirmar que a missão da virgem não se limitava em gera em seu puríssimo seio Jesus Cristo, mas que essa missão teria continuidade na paixão, morte e ressurreição de Jesus. Sobre tudo no cenáculo de Jerusalém, no dia de pentecostes. Quando o apóstolo Paulo escreve: “Completo em minha carne o que falta às tribulações de Cristo, em favor do seu corpo, que é a Igreja” (Col 1,24) não quis dizer que o santo sacrifício de Jesus na cruz foi imperfeito. Jesus Cristo era Deus, a sua obra terá sido perfeita e não pode carecer de complemento. No entanto Paulo, em seu corpo unifica a sua dor ao sacrifício perfeito de Jesus. Maria, como nos narra o evangelho de João, permaneciam de pé diante da cruz de seu filho (Jo 19, 25). Como uma mãe ainda estaria de pé diante de tanta dor? Como ela estaria tão firme contemplando seu filho morrendo injustamente em uma cruz? Naquele momento se cumpria a profecia do velho Simeão.
  Se você fosse Deus não teria poupado sua mãe de tal sofrimento e dor? Porque então Jesus não poupou Maria dessa grande dor que ela passaria? Porque mesmo depois de sua ressurreição Jesus ao subir ao céu ainda deixou Maria junto dos apóstolos? Porque o profeta Simeão direciona a profecia a Maria e não a José?
  Então, podemos ver e entender que a Virgem Maria está intimamente ligado ao mistério salvador de seu Divino filho. O Espírito Santo, seu esposo divino, preparou nossa Senhora para a realização perfeita do “Sim” que a tornou não só mãe de Jesus, mas mãe eterna da Igreja, que é corpo místico de Cristo.  Ela é a Mulher do apocalipse, que aparece como sinal no céu, revestida de sol, coberta pela Luz e força do Espírito Santo, Maria tornou-se, no dizer de São Bernardo, “um abismo de luz, gestando o verdadeiro Deus, Deus e homem ao mesmo tempo” e, diante desse fato, observa ainda São Bernardo, “até o olho angélico fica ofuscado com a potência de tal fulgor”. Comenta o Catecismo: “A missão do Espírito Santo está sempre conjugada e ordenada ao Filho. O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-lo divinamente, ele que é ‘o Senhor que dá a Vida’, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua” (484-485). Na encíclica Redemptoris Mater – sobre o papel de Maria na história e na vida da Igreja – escreveu o Papa João Paulo II: “Na economia redentora da graça, atuada sob a ação do Espírito Santo, existe uma correspondência singular entre o momento da Encarnação do Verbo e o momento do nascimento da Igreja. A pessoa que une estes dois momentos é Maria: Maria em Nazaré e Maria no Cenáculo de Jerusalém. Assim, aquela que está presente no mistério de Cristo como Mãe, torna-se – por vontade do Filho e por obra do Espírito Santo – presente no mistério da Igreja” (n. 24).
Da mesma forma que Maria visitou sua prima Isabel e sua saudação, encheu Isabel do Espírito Santo e ao mesmo tempo santificou a criança em seu seio, também a presença de Maria no cenáculo de Jerusalém, no dia de pentecoste era indispensável para que, de forma poderosa esse mesmo Espirito, atraído pela presença de sua fiel esposa, gerasse ali a Igreja. Maria é a única criatura que pode se chamada mãe e esposa de Deus. É por meio de Maria que chegamos a Cristo! Não tenhamos medo ou receio de recorrer a ela em nossa necessidade, como em Caná da Galiléia Ela esta sempre atenta as necessidades do povo e recorre ao seu filho, para que o milagre aconteça em nossas vidas. A graça que recebemos tem como autor Jesus Cristo e a virgem Maria como Medianeira. Cristo é a fonte, Maria é o canal.


BIOGRAFIAS:

Catecismo da Igreja; Bíblia;
Encíclica Redemptoris Mater – Papa João Paulo II
Documentos da Igreja.
Redemptoris Missio - Papa João Paulo II

    Formador; Jean Carlos

Papa recorda os cristãos que "pagam com sangue" o preço de sua fé

ROMA, 02 Dez. 13 / 03:55 pm (ACI/EWTN Noticias).- Em uma recente mensagem por ocasião da festa de Santo André (30 de novembro) e a visita de uma delegação católica aos ortodoxos na Turquia, o Papa Francisco escreveu uma mensagem na qual recorda os cristãos perseguidos que "pagam com o próprio sangue o preço da sua profissão de fé".
O texto foi levado pelo Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, devolvendo a visita que os ortodoxos fizeram no último dia 29 de junho a Roma. O Cardeal entregou a Bartolomeu I um presente do Papa e a sua mensagem.
No texto, o Papa Francisco escreve que "a lembrança do martírio do apóstolo Santo André também faz-nos pensar nos muitos cristãos de todas as Igrejas e Comunidades eclesiais, que em diferentes partes do mundo sofrem discriminações e às vezes pagam com o próprio sangue o preço da sua profissão de fé".
O Santo Padre assinala: "Amado irmão em Cristo, é a primeira vez que me dirijo a ti com motivo da festa do apóstolo André. Aproveito esta oportunidade para assegurar-te a minha intenção de continuar as relações fraternas entre aIgreja de Roma e o Patriarcado Ecumênico".
"É para mim um motivo de grande consolo refletir sobre a profundidade e a autenticidade dos laços que existem entre nós, fruto de uma viagem cheia de graça ao longo da qual o Senhor guiou nossas Igrejas, a partir do histórico encontro em Jerusalém entre o papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, cujo quinquagésimo aniversário celebraremos em breve".
"Unidos em Cristo, portanto, -diz o Papa- já experimentamos a alegria de sermos autênticos irmãos no Senhor, e ao mesmo tempo somos plenamente conscientes de não ter alcançado a meta da plena comunhão. À espera do dia em que possamos participar juntos no banquete eucarístico, os cristãos estão chamados a preparar-se para receber este dom de Deus mediante a oração, a conversão interior, a renovação da vida e o diálogo fraterno".
"Nossa alegria na celebração da festa do apóstolo André não deve nos fazer afastar o olhar da dramática situação de muitas pessoas que estão sofrendo devido à violência e à guerra, à fome, à pobreza e aos graves desastres naturais. Sou consciente de sua profunda preocupação pela situação dos cristãos no Oriente Médio e por seu direito a permanecer em seus países de origem".
O Pontífice assinala deste modo que "o diálogo, o perdão e a reconciliação são o único meio possível para conseguir a resolução dos conflitos. Sejamos incessantes em nossa oração ao Deus todo-poderoso e misericordioso pela paz nesta região e sigamos trabalhando pela reconciliação e o justo reconhecimento dos direitos das pessoas".
"Estamos celebrando o 1700º aniversário do Decreto de Constantino, que pôs fim à perseguição religiosa no Império Romano do Oriente e do Ocidente, e abriu novos canais para a difusão do Evangelho. Hoje, como então, os cristãos do Oriente e Ocidente devem dar testemunho comum para que, fortalecidos pelo Espírito de Cristo ressuscitado, difundam a mensagem de salvação a todo mundo".
Há também, ressaltou o Papa, "uma necessidade urgente de cooperação efetiva e comprometida entre os cristãos com o fim de proteger em todas as partes o direito a expressar publicamente a própria fé e a serem tratados com justiça quando promovem a contribuição que o cristianismo continua oferecendo à sociedade e à cultura contemporâneas".

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Reflexão para o 1º Domingo do Advento

Iniciamos um novo ano litúrgico e, com ele, nova oportunidade para colocarmos nossa vida de acordo com a mensagem cristã extraída da Sagrada Escritura.

O Evangelho de hoje nos fala da segunda vinda de Jesus. O tempo do Advento, que ora iniciamos, tem o objetivo de nos preparar para essa segunda vinda. É verdade que tudo nos leva a nos preparamos para o Natal, mas a liturgia deseja, de modo especial, nos preparar para o encontro definitivo com Cristo, cuja celebração natalina também tem idêntico objetivo.

No Evangelho, Jesus nos diz que é no dia a dia que Deus vem ao nosso encontro, como aconteceu na época de Noé. Apesar de se comentar que aquele tempo chegava ao seu fim, nem todos acreditavam e até zombavam dos que levaram a notícia a sério.

Também nós estamos em um mundo onde as coisas terminam, até o ser humano se extingue! Portanto estamos em um mundo que tem seu fim e para tal deveremos nos preparar. Se meus antepassados já não mais existem, se pessoas que eu conheci já não mais estão sobre a terra, devo me preparar porque minha hora, meu momento vai chegar. Essa preparação não deve ser de modo estático ou trágico como algumas pessoas pensam, mas de modo dinâmico, dentro da vida diária, sem se fazer nada de especial, apenas praticando os ensinamentos do Senhor, amando a Deus e ao próximo. Nosso fim, nossa morte é certa e inevitável. Da morte ninguém escapa, é uma certeza! Apenas não sabemos quando e nem como.

Por isso é importante que estejamos preparados para esse momento que eternizará nossa existência.

Lembro-me de uma brincadeira de criança chamada “brincar de estátua”. As crianças estão pulando, dançando, fazendo qualquer coisa e aí o coleguinha grita “estátua” e todos deverão permanecer paralizados, como estavam quando ouviram o grito “estátua”. Também assim será o momento do encontro com Deus. Quando o Senhor nos chamar, quando disser “estátua”, não haverá possibilidade alguma de mudança, mas nos apresentaremos a Ele como fomos encontrados. Portanto aquele ditado que diz “Para onde a árvore pende, para lá cairá”, é uma grande verdade.

Aquele será o dia da nossa realidade, quando não mais poderemos mudar de coisas. Ao preencher a última página no livro de nossa existência, tudo estará consumado. Tudo estará nas mãos de Deus.

Portanto, vivamos de modo feliz, alegre, fazendo o que o Senhor nos pediu, sem outra preocupação a não ser amar e servir. 

Nossa vida, nossa saúde, nossos dons e bens, intelectuais, espirituais e materiais deverão ser colocados à disposição de Deus, ou seja, das pessoas que Ele colocou em nossa vida, para que sejam felizes, para que O conheçam e O amem. Isso será eternizado quando chegar ao fim nossa participação neste mundo. Não sirvamos de nossa vida e dos bens que possuímos para nossa própria ruína. Deus nos criou livres e assim nos deixa viver. Sejamos responsáveis!

Poderíamos nos perguntar: Meu marido, minha mulher, meu filho, minha filha, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, meu amigo, minha amiga, meu companheiro, minha companheira, enfim essas pessoas que Deus colocou por um tempo em minha vida, se tornaram mais felizes porque conviveram comigo ou minha presença foi ocasião de desilusão e fracasso? Aí já está o nosso juízo. Minha vida valeu? Ainda há tempo! Estamos vivos! Poderemos mudar!

Padre Cesar Augusto dos Santos, SJ
Colunista do Portal Ecclesia.
Licenciado em filosofia, bacharel em teologia pela PUC Rio e mestre em história pela PUC SP. Realizou a última etapa da formação jesuíta em Alcalá de Henares, na Espanha. Atualmente é o responsável pelo Programa Brasileiro da Rádio Vaticano.

Da redação do Portal Ecclesia.

Croatas dizem não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo

Paz e Bem!

A Croácia decidiu confirmar na Constituição do pais a definição de “casamento” exclusiva como uma "união entre um homem e uma mulher". A decisão ocorreu através de um referendo que levou as urnas croatas neste domingo (01). 

O referendo foi reclamado por Organizações Não Governamentais, muitas de base católica, que levou as urnas 26,75% dos eleitores do país. Apesar da baixa adesão, o processo garantiu o resultado esperado pelos requisitantes. De acordo com as leis do país, basta uma maioria simples de votos a favor para validar o resultado.

Os croatas responderam sim a pergunta que se referia ao casamento como definição Constitucional de uma "união entre um homem e uma mulher". Segundo o resultado, 64,84% dos votos foram a favor a proposta de reforma confirmando o aspecto heterossexual do casamento.

O primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, votou contra a exclusividade aos heterossexuais garantida pela proposta, e em entrevistas aos meios de comunicação lamentou a proposta do referendo. Segundo ele, "infelizmente não pode ser evitado o referendo sobre o casamento, por mais triste que isso soe".

Nos últimos dias o governo de Milanovic, de centro-esquerda, mobilizou-se contra a emenda constitucional e classificou-a como homofóbica a realização da consulta. "Espero que seja a última vez que tenhamos de organizar um escrutínio desta forma sobre estas questões", declarou o primeiro-ministro.

Em um país com 4,2 milhões de habitantes , os promotores do referendo conseguiram reunir 740.000 assinaturas , ou seja, o apoio de 20% do eleitorado, a fim de realizar a consulta. Segundo a agência de notícias “Inforcatólica”, o referendo apresenta um “divórcio” entre a população, de maioria católica e que considera a religião como um forte traço da identidade nacional, e os líderes politicos do país, significativamente, o presidente croata Ivo Josipovic e o primeiro-ministro, Zoran Milanovic, favoráveis a tais aberturas.

Para Tomislav Karamarko, líder de movimento a favor definição, a consulta destina-se a "proteger os valores tradicionais" face a imposições externas (o chamando lobby gay, com forte influência na União Europeia). 
Segundo o ativista, "não se trata de ameaçar os direitos dos outros, mas de manter o direito a ser quem nós somos”. Para Karamarko para garantir este direito é necessário introduzir na Constituição “uma coisa que, à partida, seria natural".(JS/Com Agências)

Da redação do Portal Ecclesia.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Verdadeira devoção mariana – ou a escravidão de amor a Nossa Senhora

Paz e Bem!
Comemora-se neste ano o terceiro centenário de um livro providencial,Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Escrito em 1712, ele apresenta um aprofundamento essencial da devoção mariana, e sua extraordinária difusão universal constitui marco decisivo na história da espiritualidade católica.
Neste ano comemoram-se 300 anos do célebre e insuperável livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, doutor marial por excelência, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Dada sua importância ímpar no desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora, o escopo deste artigo é proporcionar a nossos leitores uma visão de conjunto dessa obra providencial que a justo título pode ser qualificada de profética.
 I São Luís Maria Grignion de Montfort, Doutor, Apóstolo e Profeta
Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista Grignion e de Joana Roberta de la Vizeule, Luís nasceu no dia 31 de janeiro de 1673 em Montfort-la-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha (França). Ao ser crismado, fez ques­tão de acrescentarMaria a seu nome. Mais tarde passou a ser conhecido como “Padre Montfort”, do nome de sua cidade natal.
Luís fez seus estudos com os jesuítas de Rennes (Bretanha), e depois no afamado seminário de São Suplício, de Paris, ordenando-se sacerdote em 1700.
Nosso santo fundou, no Hospital Geral de Poitiers, uma associação de donzelas que “dedicou à Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho”.1
Entretanto, certos clérigos e leigos infeccionados pela heresia jansenista (es­pécie de protestantismo camuflado) começaram, juntamente com livres-pensado­res, uma campanha de calúnia contra esse missionário, tachando-o de “extrava­gante”,acusando-o de pregar uma devoção “exagerada” à Mãe de Deus. Ele pre­cisou dissolver sua associação e retirar-se do Hospital, apesar dos protestos vee­mentes dos pobres e dos enfermos.
O Padre Montfort empreendeu então uma peregrinação a Roma, tendo sido nomeado Missionário Apostólico pelo Papa Clemente XI. Permanecia, entretanto, sob a dependência dos bispos, boa parte deles tisnada pela heresia jansenista.
Recusado e expulso de várias dioceses — uma vez, na festa da Assunção, foi proibido até mesmo de celebrar a Missa, tendo que partir imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha para fazê-lo —, ele recebeu finalmente autorização para pregar nas dioceses de Luçon e de La Ro­chelle, cujos bispos eram meritoriamente antijansenistas. Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, sublevou-se contra a ateia, sanguinária e regicida Revolução Francesa.
Ardente devoto de Maria Santíssima e da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, Luís Grignion escreveu numerosos cân­ticos religiosos e livros de espiritualidade, entre eles a Carta Circular aos Amigos da Cruz e o Trata­do da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.
Logo após o falecimento de São Luís Grignion de Montfort (no dia 28 de abril de 1716, aos 43 anos, em Saint-Laurent-sur-­Sèvre), ocorreram numerosos e assinalados milagres por sua intercessão. Ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 1888 e canonizado por Pio XII em 27 de julho de 1947. Sua festivida­de é celebrada pela Igreja no dia 28 de abril.

Apóstolo da Contra-Revolução

São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser considerado um apóstolo da Contra-Revolução. Seus livros e escri­tos inspiraram grandes vultos católicos no século XX, so­bressaindo-se Plinio Corrêa de Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e ardente difusor de sua doutrina. Os leitores desejosos de se aprofundar mais neste estudo poderão encontrar preciosos subsídios no seguinte link: www.pliniocorreadeoliveira.info/mariologia.asp

Profeta do Reino de Maria

Ainda sobre o aspecto profético do Tratado da Verdadei­ra Devoção, diz Plinio Corrêa de Oliveira: “Por último, in­teressa-nos oTratado [da Verdadeira Devoção] pelo aspec­to profético que o santo lhe imprimiu. São Luís Grignion é profeta no sentido restrito que esta palavra tem depois de encerrada a Revelação oficial, isto é, as suas profecias não são oficiais e obrigatórias como as da Sagrada Escritura. Mas sem dúvida ele é dotado por Deus do carisma da profe­cia, e isto se percebe pela leitura de seu livro. Ele profetiza acontecimentos que fazem antever a Revolução Francesa e a crise de nossos dias, e afirma também, com antecipação, a imensa vitória da Igreja Católica através de uma nova era do mundo, que será uma era marial. São Luís Maria Grig­nion de Montfort previu um reino de Maria que virá, e este reino será a plenitude do reino de Cristo”.2
II Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: livro profético

A inimizade entre os que são de Deus e os que são do demônio

É particularmente importante a afirmação de São Luís Grignion sobre a luta que os bons têm de manter neste vale de lágrimas: “Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem, e os filhos e servos de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele lhe deu até, desde o paraíso, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer, esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos os anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus” (n.52). O santo insiste: “Deus não pôs somente’ini­mizade, mas inimizades, e não somente entre Ma­ria e o demônio, mas também entre a posteridade dá Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem, e os filhos e escravos do demônio. [...] Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coi­sa), sempre perseguiram até hoje e perseguirão, no futuro, aqueles que pertencem à Santíssima Virgem como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacó, figurando os réprobos e os predestinados” ( n.54).
A propósito dessa inimizade, comenta Plinio Corrêa de Oliveira: “Entre Vós [a SantíssimaVir­gem] e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo, irreconciliável, eterno. As trevas odeiam a luz, os filhos das trevas odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e outros durará até a consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da Mulher e a raça da Serpente [...] E toda a história do mundo, toda a história da Igreja não é senão esta luta inexorável entre os que são de Deus, e os que são do demônio, entre os que são da Virgem, e os que são da Serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência, nem só fraqueza, mas também maldade, maldade delibera­da, culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e hu­manas que seguem a Satanás” (Via Sacra, 11ª, Estação, Catolicismo n. 3, marçode 1951).
Tratado da Verdadeira Devoção é um ver­dadeiro mundo. Sua densidade teológica e filosófica é tão grande, que para comentá-la seriam necessários vários volumes. Procu­raremos apresentar aqui apenas uma visão de conjunto da obra, detendo-nos nas partes que nos parecerem mais dignas de nota. Trata-se de uma obra verdadeiramente profética, tanto no sentido de ter aberto para as almas de escol um novo rumo de perfeição quanto pelo fato de revelar eventos futuros.
Nesse sentido, cumpriu-se ipsis verbis esta profecia, que o santo fez em relação ao próprio Tratado. Escreveu ele: “Vejo, no futuro, animais frementes, que se precipitam furiosos para dilacerar com seus dentes diabólicos este pequeno manus­crito, e aquele de quem o Espírito Santo se serviu para es­crevê-lo, ou ao menos para fazê-lo ficar envolto nas trevas e no silêncio de uma arca, a fim de que ele não apareça” (n.114).
Com efeito, após a morte do santo, algum colaborador zeloso, porém indiscreto, talvez por receio dos jansenistas, escondeu os preciosos manuscritos numa caixa de livros velhos. Sobreveio depois a funesta Revolução Francesa com suas perseguições, devastações e mortes. Isso fez com que os manuscritos, de 1712, permanecessem no olvido até serem encontrados muito mais tarde, em 1842, por um missionário da Companhia de Maria — fundada por São Luís Grig­nion — que procurava material para seus sermões.
Para ilustrar o outro aspecto da profecia — isto é, da perseguição que sofreria seu autor —, citamos aqui seu próprio testemunho, contido numa carta de 15 de agosto de 1713, que ele escreveu à sua irmã menos de três anos antes de sua morte: “Se soubésseis, no mínimo, as minhas cruzes e as minhas humilhações, duvido que desejásseis tão ardentemente ver-me; porque nunca estou em nenhum sítio sem dar um pedaço da minha cruz aos meus melhores amigos. Quem me sustenta e ousa declarar-se a meu favor, sofre as consequências e, por vezes, cai sob os pés do inferno que eu combato, do mundo, que contradigo, e da carne, que persigo. [Qualquer] formigueiro de pecados e de pecadores que eu ataque, não me concede, nem a mim nem aos meus, nenhum descanso: [estou] sempre sobre o que se agita, sempre sobre os espinhos, sobre pedras cortantes. Sou como uma bola num jogo de péla: atirado de um lado para o outro com violência; eis o destino de um pobre pecador; há 13 anos, desde que saí [do seminário] de Saint-Sulpice, que não me dão tré­guas nem repouso”.3

originalidade de Montfort

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e conduziu muitas almas no caminho da perfeição em todo o mundo. “A originalidade maior de Montfort — ­observa o Pe. Louis Perouas — consiste, provavelmente, em ter descoberto Maria como garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do apego imperceptível que se esconde em suas melhores ações. Desapego que consiste, provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de escravidão”.4
É preciso ressaltar aqui que São Luís Grignion escreveu seu Tratado para católicos autênticos.
Por isso o Pe. William Faber, célebre sacerdote oratoriano inglês do século XIX, conclui o prefácio de sua tradução do original francês do Tratado com estas palavras: “Com certeza os que vão ler este livro já amam a Deus e desejariam amá-lo ainda mais. Todos desejam alguma coisa para a sua glória: a propagação de uma boa obra, a vinda de melhores tempos, o sucesso de uma devoção. [...] Qual é, pois, o remédio que lhes falta? Qual o remédio indicado pelo próprio Deus? É, segundo as revelações dos santos, uma dilatação imensa da devoção à Santíssima Virgem. Mas, reflitamos bem, o imenso não admite restrições nem limites”. Por isso nossa devoção à Mãe de Deus deve ser sem limites.5
Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, São Luís Grig­nion expressa sua espiritualidade, centrada numa devoção filial e numa entrega total a Nossa Senhora. “Alguns teólo­gos, surpresos com as audácias do autor, e especialmente com a sua expressão preferida de sagrada escravidão, qui­seram diminuir-lhe a obra. As suas críticas, porém, não im­pediram a célebre obra de se espalhar, sem reforço de pro­paganda, com assombroso sucesso, no mundo inteiro. Hoje está traduzida em quase todas as línguas: sinal incontestável da sua utilidade e benefício na Igreja de Deus”.6

“Nossa Senhora tem sido até aqui desconhecida”

A devoção a Nossa Senhora foi se desenvolvendo ao lon­go dos séculos com as explicitações dos teólogos e os dog­mas sobre Ela promulgados, ratificados por várias aparições manais, sobretudo no século XIX e início do século XX.
Por isso o próprio São Luís Grignion afirma que, já em seu tempo, “toda a Terra está cheia de sua glória, particular­mente entre os cristãos, que a tomam como padroeira e pro­tetora em muitos países, províncias, dioceses e cidades. Inú­meras catedrais são consagradas sob a invocação do seu nome. Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra. Não há região ou país que não possua alguma de suas ima­gens milagrosas, junto das quais todos os males são curados e se obtêm todos os bens” (n.9).
Apesar disso, ele afirma na introdução ao Tratado: “Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido até aqui desconhecida, e que é esta uma das razões por que Je­sus Cristo não é conhecido como deve ser” (n.13).
Portanto, quando São Luís Grignion afirma que “a San­tíssima Virgem tem sido até aqui desconhecida”, quer ele dizer“conhecida insuficientemente”, ou “conhecida super­ficialmente”. Pois logo acrescenta: “Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece” (n.10). E continua, aplicando a Nossa Senhora as palavras de São Paulo na 1’ Epístola aos Coríntios (1 Cor 2,9): “Os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do ho­mem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça, da natureza e da glória” (n.12).
Para sanar essa lacuna, o autor apresenta uma devoção que, se bem não fosse inteiramente nova, não tinha sido muito difundida nem, sobretudo, chegado a todas suas consequên­cias, como as apresentadas pelo santo. Nesse sentido, ele afirma: “Declaro firmemente que não encontrei nem apren­di outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhan­te a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Je­sus Cristo e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santi­ficante para a alma, e útil ao próximo” (n.118).
Mesa de Trabalho de São Luis
E São Luís, entusiasmado pelo tema, exclama: “Ó, bem empregado seria o meu esforço, se este escrito, caindo nas mãos de uma alma bem nascida, nascida de Deus e de Ma­ria, e não do sangue ou da vontade da carne, nem da vontade do homem (cfr. Jo 1,13), lhe desvendasse e inspirasse, pela graça do Espírito Santo, a excelência e o prêmio da verda­deira e sólida devoção à Santíssima Virgem como vou indi­car. Se eu soubesse que meu sangue pecaminoso poderia servir para fazer entrar no coração as verdades que escrevo em honra de minha Mãe querida e soberana Senhora, da qual sou o último dos filhos e escravos, em lugar de tinta eu o usaria para formar esses caracteres, na esperança que me anima de encontrar boas almas que, por sua fidelidade à prá­tica que ensino, compensarão minha boa Mãe e Senhora das perdas que lhe têm causado minha ingratidão e infidelida­de” (n.111).

III Princípios Fundamentais da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem

São Luís inicia seu livro enunciando um princípio que vai presidir a todo o seu desenvolvimento: “Foi por in­termédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por meio dela que Ele deve rei­nar no mundo” (n.1).
Entretanto, afirma o ardoroso missionário, que, compa­rada com Deus, Maria Santíssima nada é: “Confesso, com toda a Igreja, que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada, portanto, à Majestade infinita, Ela é menos que um átomo; é, antes, um nada, pois que só Ele é ‘Aquele que é’ (Ex 3,14). E, por conseguinte, este grande Senhor, sempre independente e bastando-se a si mesmo, não tem nem teve jamais necessidade da Santíssima Virgem para a realização de suas vontades e a manifestação de sua glória. Basta-lhe querer, para tudo fazer” (n.14).
A esta afirmação categórica, o santo acrescenta: “Digo, entretanto, que supostas as coisas como são, já que Deus quis começar e acabar suas maiores obras por meio da San­tíssima Virgem depois que a formou, é de crer que não mu­dará de conduta nos séculos dos séculos, pois Deus é imutá­vel em sua conduta e em seus sentimentos” (n.15).

Necessidade de uma Mediadora Junto ao único Mediador

A mediação de Nossa Senhora é uma mediação de intercessão que recebe toda a sua eficácia dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, único Mediador.
Eco fiel da Igreja, São Luís reconhece que a mediação de Nossa Senhora não dispensa a mediação de Nosso Se­nhor Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens. Pois a mediação d’Ela é uma mediação de intercessão, que recebe toda a sua eficácia dos méritos de Nosso Senhor Je­sus Cristo, único Mediador. Ela é, pois, a Mediadora junto ao Mediador, segundo as palavras de Leão XIII“Ela deu o seu admirável assentimento, ‘em nome de todo o gênero humano’ (S. Tomas de Aquino, 3 q. 30 a. 1). Ela é aquela ‘da qual nasceu Jesus’, sua verdadeira Mãe, e por isto digna e agradabilíssima ‘Mediadora junto ao Mediador’” (Encíclica Fidentem piumque, de 20 de dezembro de 1896).
Se, pois, Cristo Jesus é nosso único Mediador junto a Deus, por que precisamos de uma medianeira junto a Ele?
Ao tratar dessa indagação, São Luís faz as seguintes per­guntas: “Será a nossa pureza suficiente para que nos permita unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual ao Pai e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai? Se Ele, por sua caridade infinita, se constituiu nosso penhor e media­neiro junto a Deus seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que devíamos, quer isto dizer que lhe devemos menos respeito e temor por sua majestade e santidade?” (n.85).
E acrescenta: “Digamos, pois, ousadamente, com São Bernardo, que temos necessidade de uma medianeira junto ao Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por Ela Jesus Cristo veio a nós, e por Ela devemos ir a Ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista de sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza ou, ainda, devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e a intercessão de Maria, nossa Mãe” (n.85). Em consequência, conclui São Luís que “para ir a Jesus, é preciso ir a Maria, pois Ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que preconizo, é esta a ordem perfeitamente observada” (n.86).

“Deus quis servir-se de Maria na Encarnação”

São Luís Grignion dá, então, dois princípios para mos­trar a necessidade da devoção à Santíssima Virgem.
O primeiro é: “Deus quis servir-se de Maria na Encar­nação”.
“Suspiraram [pelo Messias] os patriarcas e pedidos in­sistentes fizeram os profetas e os santos da Antiga Lei”, afir­ma ele, porém “só Maria o mereceu e alcançou graça diante de Deus, pela força de suas orações e pela sublimidade de suas virtudes”. Isso “porque o mundo era indigno, diz Santo Agostinho, de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai, Ele o deu a Maria, a fim de que o mundo o recebesse por meio dela” (n.16).
Isso tem como consequência que “Jesus Cristo deu mais glória a Deus submetendo-se a Maria durante 30 anos, do que se tivesse convertido toda a Terra pela realização dos mais estupendos milagres”. Por isso, exclama o santo: “ó quão altamente glorificamos a Deus quando, para lhe agra­dar, nos submetemos a Maria, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo” (n.18).

“Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas”

O segundo princípio expresso por São Luís é conse­quência do primeiro: querendo Deus servir-se de Maria na Encarnação, quer servir-se também de Maria na san­tificação das almas.
Com efeito, afirma o doutor marial: “A conduta das Três Pessoas da Santíssima Trindade, na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um modo visível, na Igreja, e esse procedimento há de perdurar até a consumação dos séculos, na última vinda de Cristo” (n.22).
Pois “Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensado­ra de tudo que Ele possui. Deste modo Ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, quanto quer, como quer e quando quer, e dom nenhum é concedido aos homens que não passe por suas mãos virginais” (n.25).
Aqui São Luís Grignion insere um parêntesis para dizer que, caso se dirigisse “aos espíritos fortes desta época”, ele poderia provar suas assertivas com citações das Escrituras, dos Santos Padres e dos teólogos. “Falo, porém — continua ele — aos pobres e aos simples que, por serem de boa vonta­de e terem mais fé que a maior parte dos sábios, crêem com mais simplicidade e mérito, e, portanto, contento-me de lhes apresentar simplesmente a verdade, sem me preocupar em citar todos os textos latinos” (n.26).

Maria é a Rainha dos Corações

Como resultado de quanto ficou dito até aqui, São Luís apresenta duas consequências:

1ª) Maria é a Rainha dos Corações

Afirma o santo: “Maria é a Rainha do Céu e da Terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, [...] o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, i.é, em sua alma, e é principalmente nas almas que Ela é mais glorifi­cada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la a Rainha dos Corações” (n.38).
Cabe aqui mais um comentário deste ilustre batalhador pela glória de Maria que foi Plinio Corrêa de Oliveira, ao analisar esta obra: “A derrota do espírito do mundo e a restauração da civilização sobre os princípios da Igreja Católica não começam, portanto, por meio da política, das obras, do talento ou da ciência. Na época mesma de São Luís Grignion, Bossuet encantava e deslumbrava Versalhes e Paris com seus sermões; entretanto, para evitar a derrocada religiosa da França, não foram decisivos. O começo da regeneração de todas as coisas está na piedade, no afervoramento da vida interior, está propriamente nos fundamentos religiosos da vida de um povo. O apostolado essencial é de caráter estritamente religioso: afervorar, formar na piedade, formar o caráter. O mais são consequências, são complementos. Importantes, é verdade, mas complementos”.

2ª) Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim

O santo autor divide esta consequência em três parágra­fos:
1. A devoção à santa Virgem é necessária a todos os ho­mens para conseguirem a salvação.
São Luís afirma que, conforme a opinião de vários san­tos, “a devoção à Santíssima Virgem é necessária à salva­ção, e que é um sinal infalível de condenação [...] não ter estima e amor à Santíssima Virgem” (n.40).
Argumenta o santo que, “assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatu­ral, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus e os predestinados têm Deus por pai e Maria por mãe. Quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai”. Como consequência, diz São Luís Grig­nion, “os réprobos, os hereges, os cismáticos, etc., que odei­am ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Vir­gem, não têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por Mãe” (n.29).
Portanto, a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a salvação.
2. A devoção à Santíssima Virgem é mais necessária ainda àqueles chamados a uma perfeição particular
“Se a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem simplesmente a salvação, é ain­da mais para aqueles que são chamados a uma perfeição particular; nem creio que uma pessoa possa adquirir uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, sem uma grande união com a Santíssima Virgem e uma grande dependência de seu socorro” (n.43). Porque “os mais santos, as almas mais ricas em graça e em virtudes, serão as mais assíduas em rogar à Santíssima Vir­gem que lhes esteja sempre presente, como seu perfeito modelo a imitar, e que as socorra com seu auxílio poderoso” (n.46).

Devoção mais apta para nos despojar do nosso fundo mau

São Luís Grignion afirma que, para chegarmos à perfeição, devemos nos despojar do fundo mau que há em nós, consequência do pecado original. Pois, diz ele: “Nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós. [...] Quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado original e pelo pecado atual, suas graças e orvalhos celestiais ou o vinho delicioso de seu amor, estes dons divinos ficam ordinariamente estragados ou manchados pelo mau germe e mau fundo que o pecado deixou em nós; nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disto se ressentem. É portanto de grande importância, para adquirir a perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo, despojar-nos de tudo que de mau existe em nós. Do contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e odeia infinitamente a menor mancha na alma, nos repelirá e de modo algum se unirá a nós” (n.78).
“Por isso, conclui ele, é preciso escolher, entre todas as devoções à Santíssima Virgem, a que nos leva com mais cer­teza a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a devoção melhor e mais santificante, pois é mister reconhecer que nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais santificante”.
E essa devoção é exatamente a da sagrada escravidão à Santíssima Virgem, como ele explica: “A prática que quero revelar é um desses segredos da graça, desconhecido da maior parte dos cristãos, conhecido de poucos devotos, praticado e apreciado por um número bem diminuto” (n. 82).

As devoções falsas

Antes de tratar da verdadeira devoção, o santo alerta so­bre os falsos devotos e as devoções falsas à Santíssima Vir­gem:
“Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devo­ções à Santíssima Virgem”.
E passa a descrevê-los:
1°) Os devotos críticos, que vivem criticando as práticas de devoção das pessoas simples e de boa fé.
2°) Os devotos escrupulosos, que receiam desonrar o Filho honrando a Mãe, e rebaixá-Lo se a exaltarem demais.
3°) Os devotos exteriores, que fazem consistir suas devoções só em práticas exteriores.
4°) Os devotos presunçosos, pecadores ou amantes do mundo, que escondem seus defeitos e dizem que Deus os perdoará porque são devotos da Santíssima Virgem.
5°) Os devotos inconstantes, que veneram a Santíssima Virgem por intervalos, segundo o capricho.
6°) Os devotos hipócritas, que cobrem seus pecados e maus hábitos com o manto da Virgem para passar por aquilo que não são.
7°) Os devotos interesseiros, que recorrem à Virgem quando têm alguma necessidade material (cfr. ns. 92 e ss.).

Características da verdadeira devoção

Pelo contrário, a verdadeira devoção à Santíssima Vir­gem é:
1°) Interior, isto é, parte do espírito e do coração.
2°) Terna, isto é, cheia de confiança na Santíssima Vir­gem.
3°) Santa, isto é, leva a pessoa a evitar o pecado e a imi­tar suas virtudes.
4°) Constante, isto é, firma uma alma no bem e ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção.
5°) Desinteressada, isto é, leva a alma a buscar não a si mesma, mas somente a Deus e sua Mãe Santíssima. (ns. 105­-110)

A consagração a Maria é a mais perfeita consagração a Jesus Cristo

São Luís diz que a devoção que ele prega é a “verdadeira devoção”. Por quê? Ele esclarece: “A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos conformamos, unimos e consagra­mos mais perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa perfeição consiste em sermos conformados, unidos e consa­grados a Ele. Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de todas as devoções, a que mais consagra e conforma uma alma a Nos­so Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, quanto mais uma alma se consagrar a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo. Eis por que a perfeita con­sagração a Jesus Cristo nada mais é que uma perfeita e intei­ra consagração à Santíssima Virgem [...] ou, por outra, uma perfeita renovação dos votos e promessas do batismo” (n.120).
O autor do Tratado recomenda com empenho que o fiel faça sua consagração à Santíssima Virgem num dia determi­nado, sugerindo para isso diversas orações e práticas piedo­sas que devem precedê-la, as quais podem ser encontradas em qualquer edição do livro ou mesmo na internet, onde há vários sites contendo a íntegra do Tratado. Em resumo, essa preparação consiste em 12 dias iniciais, dedicados a “desapegar-se do espírito do mundo”, seguidos de três semanas para “encher-se de Jesus Cristo por intermédio da Santíssima Virgem”.
A primeira semana é dedicada a “pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição de seus pecados”; a segunda “em conhecer a Santíssima Virgem”;a terceira “em conhecer a Jesus Cristo”.
“Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e comunga­rão na intenção de se darem a Jesus Cristo na condição de es­cravos por amor, pelas mãos de Maria”. E depois da comunhão recitarão a sublime fórmula da “Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, pelas mãos de Maria”.

IV A essência da Verdadeira Devoção

São Luís inicia a construção do Calvário de Pont-Château
A consagração ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort não é uma consagração qualquer a Nossa Senhora, mas a consagração mais radical possível e, por isso, a mais perfeita. Explica o santo:
“Esta devoção consiste, portanto, em entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por Ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É preciso dar-lhe:
1°) nosso corpo com todos os seus membros e sentidos;
2°) nossa alma com todas as suas potências;
3°) nossos bens exteriores, que chamamos de fortuna, presentes e futuros;
4°) nossos bens interiores e espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras passadas, pre­sentes e futuras.
“Numa palavra, tudo que temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo que, no porvir, poderemos ter na ordem da natureza, da graça e da glória, e isto sem nenhuma reserva, sem a reserva sequer de um real, de um cabelo, da menor boa ação, para toda a eternidade, sem pretender nem esperar a mínima recompensa de sua oferenda e de seu serviço, a não ser a honra de pertencer a Jesus Cristo por Ela e nela, mesmo que esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e reconhecida criatura” (n.121).

Entrega total à Santíssima Virgem

Segue-se que “uma pessoa, que assim voluntariamente se consagrou e sacrificou a Jesus Cristo por Maria, já não pode dispor do valor de nenhuma de suas boas ações. Tudo o que sofre, tudo o que pensa, diz e faz de bem, pertence a Maria, para que Ela de tudo disponha conforme a vontade e para maior glória de seu Filho, sem que, entretanto, esta dependência prejudique de modo algum as obrigações de estado no qual esteja presentemente, ou venha a estar no futuro” (n.124).
Alguns dirão: “Se eu der à Santíssima Virgem todo o valor de minhas ações para que Ela o aplique a quem quiser, terei de sofrer talvez muito tempo no purgatório”.
O santo responde: “Esta objeção, produto do amor-pró­prio e da ignorância da liberalidade de Deus e de sua Mãe Santíssima, destrói-se por si mesma. Uma alma, cheia de fervor e generosa, que antepõe os interesses de Deus aos seus próprios, que tudo que tem dá a Deus inteiramente, sem reserva, que só aspira à glória e ao reino de Jesus Cristo por intermédio de sua Mãe Santíssima, e que se sacrifica completamente para obtê-lo, esta alma generosa, repito, e liberal, será castigada no outro mundo por ter sido mais liberal e desinteressada que as outras? Muito ao contrário, é a esta alma, como veremos, que Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima se mostram mais generosos neste mundo e no outro, na ordem da natureza, da graça e da glória” (n.133).

“Escravidão por amor” ou “Sagrada escravidão”

Essa entrega total à Santíssima Virgem não é uma con­sagração como as demais: na perspectiva de São Luís Grig­nion de Montfort, ela constitui uma verdadeiraescravidão; porém, uma “escravidão por amor” (cfr. ns. 56, 68), ou “Sagrada escravidão”.
Para bem estabelecer o caráter da escravidão a Nossa Senhora, São Luís mostra a diferença existente entre uma simples servidão entre os cristãos, pela qual um homem se põe a serviço de outro por um certo tempo, “recebendo de­terminada quantia ou recompensa”, e a escravidão, pela qual um homem fica inteiramente dependente de outro, sem es­perar recompensa alguma, tendo o segundo sobre o primei­ro até o direito de vida e de morte, pelo menos como era nos tempos primitivos e entre os pagãos (ns. 69ss).
O santo continua explicando que todos nós, antes do ba­tismo, éramos escravos do demônio, e que o batismo nos transformou em escravos de Jesus Cristo, pois fomos com­prados por Ele por um preço infinitamente caro, o preço de seu Sangue.
Donde ele conclui que há três espécies de escravidão:
1ª) por natureza (todas as criaturas são escravas de Deus);
2ª) por constrangimento (os demônios e os réprobos são escravos de Deus desse modo);
3ª) e outra por livre e espontânea vontade (como a dos justos e dos santos para com Deus).
Essa escravidão voluntária é a mais perfeita e agradável a Deus. Pois, “nada há que mais absolutamente nos faça perten­cer a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima do que a escravidão! voluntária, conforme o exemplo do próprio Jesus Cristo, que, por nosso amor, tomou a forma de escravo [...] e da Santíssima Virgem, que se declarou a escrava do Senhor” (n.72).

Vantagens desta devoção para a vida espiritual

Imagem de Nossa Senhora na Igreja de Saint Laurent sur Sevre
São Luís Grignion enumera as vantagens desta devoção para a vida espiritual.
Esta devoção é recomendável porque:
1°) nos põe inteiramente ao serviço de Deus;
2°) nos leva a imitar o exemplo dado por Jesus Cristo, e a praticar a humildade;
3°) nos proporciona as boas graças da Santíssima Vir­gem (Maria se dá a quem é seu escravo por amor, e purifica nossas boas obras, embeleza-as e as torna aceitável a seu Filho);
4°) é um meio excelente de promover a maior glória de Deus;
5°) conduz à união com Nosso Senhor (é um caminho fácil, curto, perfeito, seguro);
6°) dá uma grande liberdade interior;
7°) nosso próximo aufere grandes bens desta devoção (pois que lhe damos, pelas mãos de Maria, o que temos de mais caro, isto é, o valor satisfatório e impetratório de todas as nossas boas obras, sem excetuar o menor dos bons pensa­mentos e o mais leve sofrimento; é o meio de converter os pecadores sem temer a vaidade, e de livrar as almas do pur­gatório, sem fazer quase nada mais do que aquilo a que cada um está obrigado por seu estado);
8°) é um meio admirável de perseverança.

Relações entre a Santíssima Virgem e seus escravos

Depois o santo passa a falar das relações que se estabele­cem entre a Santíssima Virgem e seus escravos por amor:
1ª) Ela os ama;
2ª) Ela os mantém;
3ª) Ela os conduz;
4ª) Ela os defende e protege;
5ª) Ela intercede por eles.

Efeitos maravilhosos desta devoção

Por sua vez, são maravilhosos os efeitos que esta devo­ção produz numa alma fiel:
1°) Conhecimento e desprezo de si mesmos;
2°) Participação da fé de Maria;
3°) Graça do puro amor;
4°) Grande confiança em Deus e em Maria;
5°) Comunicação da alma e do espírito de Maria;
6°) Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo;
7°) A maior glória de Jesus Cristo.

Práticas exteriores e interiores desta devoção

Após falar das práticas exteriores dessa devoção, o santo doutor marial mostra que o mais importante são as práticas interiores por ele recomendadas:
1ª. Fazer todas as ações por Maria: “É preciso fazer todas as ações por Maria, quer dizer, em todas as coisas obe­decer à Santíssima Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito, que é o santo espírito de Deus” (n.258).
2ª. Fazer todas as ações com Maria: “Em todas as ações olhar Maria como um modelo acabado de todas as virtudes e perfeições, que o Espírito Santo formou numa pura criatura, e imitá-la na medida de nossa capacidade” (n.260).
3ª. Fazer todas as ações em Maria: “Para compreender cabalmente esta prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem é o paraíso terrestre do novo Adão [Jesus Cristo], de que o antigo paraíso é apenas figura” (n.261).
4ª. Fazer todas as ações para Maria: “Porque, desde que nos entregamos completamente a seu serviço, é justo que façamos tudo para Ela, como um criado, um servo, um escravo” (n.265).

Conclusão

Quem praticar verdadeiramente esta devoção, unindo-se à Santíssima Virgem do modo preconizado por esse grande missionário, atingirá sem dúvida a santidade.
Entretanto, São Luís Maria não o espera de todos os que abraçarem esta devoção. Diz ele que “o essencial desta de­voção consiste no interior que ela deve formar e, por este motivo, não será igualmente compreendida por todo o mun­do. Alguns hão de deter-se no que ela tem de exterior, e não passarão avante, e estes serão o maior número; outros, em número reduzido, entrarão em seu interior, mas subirão ape­nas um degrau. Quem alcançará o segundo? Quem se eleva­rá até ao terceiro? Quem, finalmente, se identificará nesta devoção? Aquele somente a quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este segredo. Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel, fazendo-a progredir de virtude em virtude, de gra­ça em graça, e de luz em luz, para que ela chegue a transfor­mar-se em Jesus Cristo, e atinja a plenitude de sua idade sobre a Terra e de sua glória no Céu” (n.119).
Desejamos de todo coração que nossos leitores e nós mesmos possamos ser incluídos entre esses privilegiados.
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Notas:
  1. Pe. Louis Perouas, San Luis Maria Grignion de Montfort, Obras, Bibli­oteca de Autores Cristianos, Madri, 1984, Introdução, p. 11.
  2. Circular aos Propagandistas de Catolicismo, 1951.
  3. Apud Louis Le Crom, São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Civilização, Porto, 2010, p. 322.
  4. Louis Perouas, op. cit., p. 35.
  5. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes, Petrópolis, 1961, Introdução, pp. 12 e 13. Todas as citações da obra são desta edição, figurando no fim de cada parágrafo o número do tópi­co citado.
  6. Louis Le Crom, op. cit. p. 505.
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