quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração
SÃO PAULO, quinta-feira, 28 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à Liturgia da Palavra do 18º domingo do Tempo Comum – Is 55, 1-3; Rm 8, 35-37.39; Mt 14, 13-21 –, redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT. 
Dai-lhes vós mesmos de comer
Leituras: Is 55, 1-3; Rm 8, 35-37.39; Mt 14, 13-21
Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (Mt 14, 14).
Eis que o reino de Deus, semente espalhada com generosidade em todo tipo de terreno, boa semente no meio do joio, pequeno grão de mostarda das potencialidades inesperadas, tesouro escondido no campo a ser procurado com discernimento vigilante e perseverança, vem à luz e se manifesta em toda sua energia vital em Jesus, que não mostra potência, mas se enche de compaixão ao ver o povo que o está procurando com tamanha insistência (Mt 14, 14).  
O povo que procura por Jesus e o segue, vagando como ovelhas sem pastor, faminto da sua palavra e da esperança por ele suscitada, impele Jesus a sair de um cuidado prudente para consigo mesmo e para com seus queridos discípulos. 
Para si e para eles tinha procurado um lugar deserto e afastado, para se subtrair à pressão do poder prepotente - manifestado na morte violenta de João pelas mãos de Herodes - e por um pouco de descanso, depois da fatigosa missão dos doze (Mt 14, 3; Mc 6, 31-32). 
Escolha razoável, “mas, ao ver...”. O que Jesus vê o impele a sair do próprio cuidado, para encontrar e assumir sobre si mesmo o outro, o povo sofrido. Ele escreve na sua pele o ensino que vai transmitir aos discípulos, como condição essencial para tornar-se seu discípulo: “Aquele que acha a sua vida, a perderá, mas quem perde a sua vida por causa de mim, a acha” (Mt 10, 39). “Vinde a mim, todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo, e vos darei descanso” (Mt 11, 28).
Mais uma vez, na atitude compassiva e solidária de Jesus se manifesta o coração do Pai, desde sempre atento em ver a miséria, em ouvir o grito dos sofridos, e a intervir para abrir novos caminhos em favor deles (cf. Ex 3, 7-8). O Verbo de Deus, pelo qual tudo foi feito e no qual tudo tem consistência, continua a se fazer carne, a se esvaziar de poder, a assumir como própria a fraqueza de cada um, e a revelar assim a proximidade do Pai aos pequeninos (cf. Jo 1, 14. 18). 
Nele, o céu desce à terra e a terra encontra o céu, naquele admirável intercâmbio que faz Deus tornar-se homem e o homem participar da vida de Deus. O cuidado na cura dos doentes ilumina a missão de Jesus, colocando-o no caminho do “Servo do Senhor”, que leva sobre si nossos sofrimentos, carrega nossas dores e nos cura por suas feridas (cf. Is 53, 4-5). O reino de Deus, escondido no campo e na pequenez do grão de mostarda, se torna experiência de renascimento à vida feita pelos pobres e famintos. Hoje, assim como ontem. A Palavra eficaz de Jesus manifesta sua energia vital para com todos aqueles que a procuram e se abrem a ele com fé.
A mesma estrutura narrativa do evangelista nos revela este dinamismo.  
O acontecimento da alimentação milagrosa da multidão feita por Jesus marca uma passagem decisiva no processo da auto-revelação de Jesus como messias e da sua ação messiânica.  A multiplicação dos pães é testemunhada por todos os evangelistas. Enquanto Lucas (9,10-17) e João (6,1-13) a narram como um episodio único, Mateus (Mt 14,13-21; 15,32-39) e Marcos (Mc 6,30-44; 8, 1-10) a relatam duas vezes, caracterizando cada narração com acentos diferentes. Os estudiosos do NT observam que, através desta estrutura literária, os evangelistas destacam a atualidade da ação de Jesus e da Palavra de Deus, que se exprime e atua em contextos diferentes da vida do povo.
Enquanto a primeira narração de Mateus evidencia a missão e a ação de Jesus em prol do povo de Israel, em cumprimento das promessas de Deus aos patriarcas e aos profetas, a segunda sublinha sua extensão em favor dos pagãos. Jesus é o enviado do Pai para todos, e para todos os tempos e situações culturais, raciais, religiosas. Uma lição que a comunidade dos discípulos apreendeu aos poucos e com grande fatiga, e não sem contradições, como nos atestam as mesmas narrações evangélicas, os Atos dos Apóstolos e a história da Igreja ao longo dos séculos.  
O contexto literário comum às duas narrações da multiplicação dos pães é constituído pelo deserto, pela procura do caminho de Deus, pela fome física e espiritual do povo. Elementos simbólicos de alta ressonância para ouvintes e leitores do evangelho, familiarizados com acontecimentos bem conhecidos do Antigo Testamento: a saída de Israel do Egito, com a dura experiência do deserto e a intervenção extraordinária de Deus, que alimenta seu povo com o maná (Ex 16; Nm 11); a multiplicação do azeite e do pão por parte do profeta Eliseu em prol da viúva (2 Rs 4). 
Jesus, com seu gesto de solidariedade, atua como o verdadeiro Moisés, o profeta de Deus. Realiza o plano de Deus e oferece o alimento escatológico, capaz não somente de saciar a fome do corpo, mas de doar a vida plena.
Ele mesmo tinha vivenciado a experiência do deserto no início da sua missão. Submetido às provações, não aceita o convite do diabo para recorrer aos milagres. Pelo contrário, reafirma, diferentemente do Israel do deserto, que o verdadeiro pão que sustenta no caminho da vida não é o que o homem pode providenciar para si mesmo, mas a palavra de Deus: “Não de só pão vive o homem mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). 
Este é o mesmo caminho que Jesus indica aos discípulos, como destaca a grande reflexão do próprio Jesus sobre o pão, na sinagoga de Cafarnaum, referida por João (Jo 6, 22 - 71).
Os discípulos, porém, estão ainda longe das perspectivas do mestre. São homens muito razoáveis: pedem a Jesus que ele despeça o povo, pois as condições do lugar deserto e a hora do tempo sugerem que o melhor é que o povo seja mandado embora para que cada um providencie para si mesmo. “Jesus porém....” (Mt 14, 16) tem outros critérios: o da solidariedade com o povo e o da confiança no Pai. Ele convida os discípulos a entrar no seu mesmo horizonte e a tornarem-se colaboradores ativos da sua escolha tão diferente: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16).
A resposta dos discípulos não pode que destacar a absoluta desproporção dos meios à disposição diante da enorme necessidade: “Só temos cinco pães e dois peixes” (14, 17). Ele, porém, os transforma em colaboradores confiantes e ativos, pela fé que brota silenciosamente dos seus corações. 
A escolha e o chamado inicial dos discípulos a segui-lo, assim como o chamado dos profetas a se tornarem voz e braço de Deus no meio do povo (cf. Is 6, 1-10; Jer 1, 4-10), não foram diferentes. Sempre acompanhados pela promessa: “Não temas, eu estou contigo”. Ontem, assim como hoje. 
Na fragilidade do colaborador se manifesta a gratuidade e o poder da graça, nos lembra São Paulo ( 2 Cor 4,7).
Jesus acolhe as necessidades do povo em toda sua complexidade. Cuida do corpo, assim como do espírito, da fome física, assim como da palavra de vida. E abre o caminho para o pão que dá a vida plena e abundante, sendo ele mesmo o pão doado do Pai, que sustenta o povo na caminhada ao longo da história, até sua vinda gloriosa. 
A fé da Igreja, desde a mais antiga tradição, vislumbrou na multiplicação dos pães o pão escatológico por excelência, a eucaristia, da qual se alimenta no dia do Senhor.  
Na luz desta fé, o evento milagroso da multiplicação dos pães é narrado com a sucessão dos gestos de Jesus que constituem a estrutura da celebração eucarística desde a primeira tradição conhecida: “Jesus tomou os pães... ergueu os olhos para o céu... pronunciou a bênção... partiu os pães e os deu aos discípulos... Os discípulos os distribuíram” (14,19). A eucaristia é indicada nesta maneira como o lugar onde o próprio Jesus forma e alimenta o povo peregrinante de Deus.
Do quase nada, em relação ao número das pessoas, brota a superabundância, como da semente de mostarda brota o grande arbusto onde os pássaros fazem o ninho. “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão.... Vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura” (Sl 144- Responsorial).  
Tal é a experiência que pode testemunhar todo aquele e aquela que se entrega com fé ao Senhor, até nas circunstâncias mais difíceis da vida. A entrega confiante e quase temerária ao seu amor se transforma em profunda alegria e inesperada paz. “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome?... Em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!” (Rm 8,35 – segunda leitura).
Hoje a comunidade cristã se encontra por sua vez na condição de enfrentar novos horizontes e desafios, nos quais a fome do homem e da mulher contemporânea assume novas formas e profundidades. Junto com a fome material, provocada pelos desequilíbrios sociais e econômicos, se eleva forte, embora confuso, o grito da fome espiritual e do sentido da vida por parte de tantas pessoas. 
No seu recente discurso à FAO, papa Bento XVI destacou a dramaticidade desta situação e a exigência de uma profunda conversão pessoal e de mudanças das estruturas políticas e econômicas para deparar o drama, também através do empenho de pessoas honestas no âmbito profissional e político, come ele destacou em outras ocasiões: “A pobreza, o subdesenvolvimento, e portanto, a fome, são com freqüência os resultados de atitudes egoístas que, partindo do coração do homem, se manifestam no seu agir social, nas mudanças econômicas, nas condições do mercado, na falta de acesso ao alimento e traduzem-se na negação do direito primário de cada pessoa e nutrir-se e, portanto, e ser libertada da fome” [1]. 
Como fazer com que estas pessoas possam encontrar a compaixão de Jesus, e que o pão da vida seja distribuído também a elas?
Que não aconteça que, fechados nos pequenos mundos do passado, ligados a atitudes pastorais que tendem a repetir a si mesmas mais do que abrir-se aos novos pedidos, contentes de repetir nossa linguagem eclesiástica, herdeira de outro contexto cultural e espiritual, corramos o risco de oferecer pedras a quem nos pede pão, e cobras a quem nos procura peixes, como nos admoesta Jesus (cf Mt 7, 9). 
Mateus e Marcos, com a dupla narração da multiplicação dos pães, nos ensinam que é preciso saber atualizar a palavra, para que Jesus possa continuar a atuar na vida de cada um. O Concílio Vaticano II não propôs à Igreja inteira o critério da “fidelidade dinâmica e criativa” ao evangelho e à tradição doutrinal e espiritual, para ficar fiel ao Senhor e à missão em prol dos homens e das mulheres do nosso tempo, para os quais ela é enviada como a Esposa solícita do Verbo vivente do Pai?
É realmente a palavra do Senhor o que estamos oferecendo ao povo de Deus no nosso ensino e em nossas homilias, ou, às vezes a misturamos e substituímos com palavras piedosas de nossa invenção, do nosso grupo, da nossa ideologia, talvez prometendo até milagres? 
Paulo com clareza denuncia que a falta de solidariedade para com os irmãos necessitados constitui uma contradição radical com a celebração da ceia do Senhor (cf 1 Cor 10, 20-22), 
e “quem não reconhece” o corpo do Senhor, que é o eucarístico e também a comunidade, “come e bebe a própria condenação” (1 Cor 10, 29). 
A tomada de consciência da seriedade e da beleza da participação à eucaristia se faz invocação humilde para que o Senhor sustente com o pão da vida o caminho coerente da comunidade: “Acompanhai, ó Deus, com proteção constante os que renovastes com o pão do céu e, como não cessais de alimentá-los, tornai-os dignos da salvação eterna” (Oração depois da comunhão) 
Notas: 
1. Discurso aos participantes à XVII Conferencia  da Organização das Nações Unidas para a Alimentação  e a Agricultura – FAO  em inglês - Roma , 1 de julho 2011.

Evangelho (Mateus 13,47-53)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 13 47 "O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie.
48 Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.
49 Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos
50 e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.
51 Compreendestes tudo isto?" "Sim, Senhor", responderam eles.
52 Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas".
53 Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
Palavra da Salvação.
Comentário ao Evangelho
O ESCRIBA INSTRUÍDO SOBRE O REINO
Quando Jesus perguntou aos seus discípulos, se tinham entendido o que lhes tinha ensinado por meio das parábolas, eles responderam "sim". Portanto, consideravam-se instruídos nos mistérios do Reino, conhecedores de sua dinâmica e aptos para se tornarem seus anunciadores. Sua sabedoria consistia em terem participado da revelação feita pelo Pai e conhecido a novidade do Reino instaurado por Jesus.
Os novos mestres sabiam combinar o novo e o velho, reconhecendo a continuidade entre o Antigo Testamento e a novidade cristã. Diferentemente dos antigos escribas, aferrados ao texto da Lei e preocupados em interpretar-lhe o sentido, o escriba instruído sobre o Reino dos Céus sabia descobrir a unidade da História, desde os seus primórdios até a chegada do Messias Jesus. Era sempre o mesmo Deus quem agia. O mesmo Israel era o destinatário privilegiado do anúncio do Reino, chamado a se tornar o verdadeiro Israel, não mais escravo da letra da Lei, mas sim livre para viver segundo o seu espírito. A nova Lei do Reino consistiu na radicalização da antiga, reinterpretada por Jesus, ao redescobrir seu sentido original, correspondente ao querer do Pai.
Novo e velho estariam presentes no ensinamento dos discípulos do Reino. O velho oferecendo o solo onde o novo pode desenvolver-se. O novo tomando o velho como referencial de sua articulação, sem tradicionalismos nem saudosismo

terça-feira, 26 de julho de 2011

"A velhice é um sinal de que a vida requer profundidade".

“Quanto a vós, ditosos os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não viram, e ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram!”
Jesus faz com que os Seus discípulos sintam a grandeza do dom recebido. Ele não lhes fala em parábolas do Reino de Deus. As parábolas velavam uma doutrina que a interpretação de muitos corria o risco de deturpar em sentidos nacionalista e material; a eles, que eram dóceis e humildes, Jesus comunicava a interpretação exata das parábolas: a felicidade e a libertação são para todos, acima de tudo para os marginalizados, os oprimidos, os frágeis, as mulheres, os excluídos, os pequeninos, os estrangeiros e os pobres; a origem desta libertação terrena e eterna é Deus, que Ele anuncia como Pai, Filho e Espírito Santo.
Sem dúvida, Ana e Joaquim pertenciam ao grupo daqueles judeus piedosos que esperavam a consolação de Israel, e precisamente a eles foi dada uma tarefa especial na história da Salvação: foram escolhidos por Deus, para gerar a Imaculada que, por sua vez, é chamada a gerar o Filho de Deus.
Estamos hoje celebrando o dia de Santa Ana e São Joaquim, os pais da Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta não podia deixar de irradiar a graça totalmente especial da sua pureza, a plenitude da graça que a preparava para o desígnio da maternidade divina.
Podemos imaginar quanto receberam dela estes pais, ao mesmo tempo que cumpriam o seu dever de educadores. Mãe e filha estavam unidas não apenas por laços familiares, mas também pela comum expectativa do cumprimento das promessas, pela recitação multiforme dos Salmos e pela evocação de uma vida entregue a Deus.
Santa Ana e São Joaquim são modelo pela sua santidade vivida em idade avançada. Em conformidade com uma antiga tradição, eles já eram idosos quando lhes foi confiada a tarefa de dar ao mundo, conservar e educar a Santa Mãe de Deus.
Na Sagrada Escritura, a velhice é circundada de veneração (cf. 2 Mac 6,23). O justo não pede para ser privado da velhice e do seu peso. Ao contrário, ele reza assim: “Vós sois a minha esperança, a minha confiança, Senhor, desde a minha juventude… Agora, na velhice e na decrepitude, não me abandoneis, ó Deus, para que eu narre às gerações a força do vosso braço, o vosso poder a todos os que hão-de vir” (Sl 71 [70], 5-18).
Com a sua própria presença, a pessoa idosa recorda a todos – e de maneira especial aos jovens – que a vida na terra é uma “curva”, com um início e com um fim: para experimentar sua plenitude, ela exige a referência a valores não efêmeros e nem superficiais, mas sólidos e profundos.
Infelizmente, um elevado número de jovens do nosso tempo estão orientados para uma concepção da vida na qual os valores éticos se tornam cada vez mais superficiais, dominados como são por um hedonismo imperante. O que mais preocupa é o fato de que as famílias se desagregam na medida em que os esposos atingem a idade madura, quando teriam maior necessidade de amor, de assistência e de compreensão recíproca.
Os idosos que receberam uma educação moral sadia deveriam demonstrar, mediante a sua vida e o próprio comportamento no trabalho, a beleza de uma sólida vida moral. Deveriam manifestar aos jovens a profunda força da fé, que nos foi transmitida pelos nossos mártires, e a beleza da fidelidade às leis divinas da moral conjugal. Teremos nós os olhos e os ouvidos abertos para reconhecer um mistério tão excelso?
Peçamos a Santa Ana e a São Joaquim não só para ver e ouvir a mensagem de Deus, mas também participar com amor desta mesma mensagem, transmitindo luz e esperança às nossas famílias. Confiemos de maneira especial a Santa Ana, as mães, sobretudo as que são impedidas na defesa da vida nascente ou que encontram dificuldades para criar e educar seus filhos.
Padre Bantu Mendonça
Responda as questões, passe as letras do quadro para o diagrama, de acordo com as coordenadas. Preenchido o passatempo, surgirá uma frase no diagrama e o nome do seu autor.

a)    Onde ocorreu o Pentecostes?
b)    Onde o termo “cristão” foi usado pela primeira vez?
c)    Lugar onde era celebrada as primeiras missas
d)    Imperador romano que promoveu a primeira grande perseguição aos cristãos
e)    Imperador que concedeu liberdade de culto aos cristãos (313)
f)    Tornou o cristianismo a religião oficial do Império romano (380)
g)    Negação de uma ou mais verdades de fé
h)    Igreja que se formou a partir do cisma do oriente (1054)
i)    Movimento que pretendia libertar o Santo Sepulcro dos turcos (1095)
j)    Tribunal eclesiástico criado para combater as heresias (1231)
k)    De 1305 a 1377, a residência do papa foi transferida de Roma para ...
l)    Reformador protestante
m)    Igreja fundada por Henrique VIII (1534)
n)    Concílio da Reforma católica (1545-1563)
o)    Tratado que originou o Estado do Vaticano (11/02/1929)

Bento XVI: o exemplo do sábio Salomão

Queridos irmãos e irmãs,
hoje, na Liturgia, a Leitura do Antigo Testamento nos apresenta a figura do rei Salomão, filho e sucessor de Davi. Ele nos é apresentado no início de seu reinado, quando ainda era muito jovem. Salomão herdou uma tarefa de muito comprometimento, e a responsabilidade que pesava sobre seus ombros era grande para um jovem soberano. Em primeiro lugar, ele ofereceu a Deus um solene sacrifício – “mil holocaustos”, diz a Bíblia. 
Então o Senhor apareceu-lhe em visão noturna e prometeu conceder-lhe o que pedisse em oração. E aqui se vê a grandeza de alma de Salomão: ele não pediu uma longa vida, nem riquezas, nem a eliminação de seus inimigos: mas diz ao Senhor: “Dá, pois, a teu servo, um coração dócil, capaz de governar teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1 Re 3, 9). E o Senhor lhe concedeu, de modo que Salomão chegou a ser célebre em todo o mundo por sua sabedoria e seus retos julgamentos.
Ele, portanto, pediu a Deus que lhe concedesse “um coração dócil”. Que significa essa expressão? Sabemos que o “coração” na Bíblia não indica só uma parte do corpo, mas o centro da pessoa, a sede de suas intenções e de seus julgamentos. Poderíamos dizer: a consciência. “Coração dócil” significa então uma consciência que sabe escutar, que é sensível à voz da verdade, e por isso é capaz de discernir o bem do mal. No caso de Salomão, o pedido está motivado pela responsabilidade de guiar uma nação, Israel, o povo que Deus elegeu para manifestar ao mundo seu desígnio de salvação. O rei de Israel, portanto, deve buscar estar sempre em sintonia com Deus, à escuta de sua Palavra, para guiar seu povo pelos caminhos do Senhor, o caminho da justiça e da paz. Mas o exemplo de Salomão vale para cada homem. Cada um de nós tem uma consciência para ser, em um certo sentido, “rei”, quer dizer, para exercitar a grande dignidade humana de atuar segundo a reta consciência, trabalhando pelo bem e evitando o mal. A consciência moral pressupõe a capacidade de escutar a voz da verdade, de ser dóceis a suas indicações. As pessoas chamadas a tarefas de governo têm, naturalmente, uma responsabilidade ulterior, e portanto – como ensina Salomão – têm ainda mais necessidade da ajuda de Deus. Mas cada um tem de fazer sua própria parte, na situação concreta em que se encontra. Uma mentalidade equivocada nos sugere pedir a Deus coisas ou condições favoráveis; na realidade, a verdadeira qualidade de nossa vida e da vida social depende da reta consciência de cada um, da capacidade de cada um e de todos de reconhecer o bem, separando-o do mal, e de buscar realizá-lo com paciência.
Peçamos por isso a ajuda da Virgem Maria, Sede da Sabedoria. Seu “coração” é perfeitamente “dócil” à vontade do Senhor. Ainda sendo uma pessoa humilde e simples, Maria é uma rainha aos olhos de Deus, e como tal nós a veneramos. Que a Virgem Santa nos ajude também a formar, com a graça de Deus, uma consciência sempre aberta à verdade e sensível à justiça, para servir ao reino de Deus.
[Tradução de Alexandre Ribeiro
©Libreria Editrice Vaticana]

O problema do mal

Por Dom Murilo Krieger
SALVADOR, terça-feira, 26 de julho de 2011 (ZENIT.org) – “Você acredita em Deus?” Com essa pergunta, a jornalista terminava uma longa entrevista com um conhecido esportista nacional. A resposta que ele lhe deu chamou minha atenção, porque expressa o que muita gente pensa a respeito do problema do mal. O drama e a angústia do esportista são a angústia e o drama de inúmeras pessoas, em situações, épocas e lugares diferentes: “É difícil dizer que acredito em Deus. Quanto mais desgraças vejo na vida, menos acredito em Deus. É uma confusão na minha cabeça; não encontro explicação para o que acontece. Por que é que meu filho nasce em berço de ouro, enquanto outro, infeliz, nasce para sofrer, morrer de doença, e há tudo isso de triste que a gente vê na vida? É uma coisa que não entendo e, como não tenho explicação, é difícil de acreditar em um Ser superior.”
O mal, o sofrimento e a doença fazem parte de nosso cotidiano. As injustiças, a fome e a dor são tão frequentes em nosso mundo que parecem ser normais e obrigatórias. Fôssemos colocar em uma biblioteca todos os livros já escritos para tentar explicar o porquê dessa realidade, ficaríamos surpresos com sua quantidade.
Para o cristão, mais do que um culpado, o mal tem uma causa: a liberdade. Fomos criados livres, com a possibilidade de escolher nossos caminhos. Podemos, pois, fazer tanto o bem quanto o mal. Se não tivéssemos inteligência e vontade, não existiria o mal no mundo; se fossemos meros robôs, também não. Por outro lado, sem liberdade não haveria o bem e nem saberíamos o que é um gesto de amor. Também não conheceríamos o sentido de palavras como gratidão, amizade, solidariedade e lealdade.
O mal nasce do abuso da liberdade ou da falta de amor. Nem sempre ele é feito consciente ou voluntariamente. Quanto sofrimento acontece por imprudência! Poderíamos recordar os motoristas que abusam da velocidade ou que dirigem embriagados, e acabam mutilando e matando pessoas inocentes. Não é da vontade de Deus que isso aconteça. Mas Ele não vai corrigir cada um de nossos erros e descuidos. Não impedirá, por exemplo, que o gás que ficou ligado na casa fechada asfixie o idoso que ali dorme. Repito: Deus não intervém a todo momento para modificar as leis da natureza ou para corrigir os erros humanos.
O que mais nos angustia, talvez pela gravidade das consequências, é o mal causado pela violência, pelo ódio e egoísmo. Os assassinatos e roubos, os sequestros e acidentes, as guerras e destruições são como que pegadas da passagem do homem pelo mundo. O mal acontece porque usamos de forma errada nossa liberdade ou não aceitamos o plano de Deus, expresso nos mandamentos. Quando nos deixamos levar pelo egoísmo e seguimos nossas próprias ideias, construímos o nosso mundo, não o mundo desejado por Deus para nós.
Outro imenso campo de sofrimento é o das injustiças. Quantos se aproveitam de sua posição e de seu poder para se enriquecer sempre mais, à custa da miséria dos fracos e do sofrimento dos indefesos! Terrível poder o nosso: podemos fechar-nos em nosso próprio mundo e contemplar, indiferentes, a desgraça dos outros.
Não se pode, também, esquecer o mal causado pela natureza, quando suas leis não são respeitadas. Com muita propriedade, o povo diz: “Deus perdoa sempre; o homem, nem sempre; a natureza, nunca!” A devastação das florestas e a contaminação das águas fluviais trazem consequências inevitáveis, permanentes e dolorosas para a vida da humanidade. Culpa de Deus?...
Diante do mal, não podemos ter uma atitude de mera resignação. Cristo nos ensina a lutar, combatendo o mal em suas causas. O bom uso da liberdade e a prática do bem nos ajudarão a construir o mundo que o Pai sonhou para nós. Descobriremos, então, que somos muito mais responsáveis por nossos atos do que imaginamos. Fugir dessa responsabilidade, procurando fora de nós a culpa de nossos erros é uma atitude cômoda, ineficiente e incoerente. Assumirmos a própria história, colocando nossas capacidades a serviço dos outros, é uma tarefa exigente, sim, mas que nos dignifica e nos realiza como seres humanos e filhos de Deus.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj, é arcebispo de São Salvador da Bahia

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Santo Lourenço de Brindisi

   Geralmente as chamadas "crianças superdotadas", aquelas que demonstram um dom excepcional para alguma especialidade, quando crescem parecem "perder os poderes" e se nivelam às demais pessoas. São poucas as exceções que merecem ser recordadas. Mas,com certeza, uma delas foi Júlio César Russo, que nasceu no dia 22 de julho de 1559 em Brindisi, na Itália.
Seu nome de batismo, mostrava claramente a ambição dos pais, que esperavam para ele um futuro brilhante como o do grande general romano. Realmente, anos depois, lá estava ele à frente das forças cristãs lutando contra a invasão dos turcos muçulmanos, que ameaçava chegar ao coração da Europa, depois de ter dominado a Hungria. Só que não empunhava uma espada, mas sim uma cruz de madeira. Nesta ocasião já vestia o hábito franciscano, respondia pelo nome de Lourenço e era o capelão da tropa, além de conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena.
Vejamos como tudo aconteceu. Aos seis anos de idade, o então menino Júlio César encantava a todos com o extraordinário dom de memorizar as páginas de livros, em poucos minutos, para depois declamá-las em público. E cresceu assim, brilhante nos estudos. Quando ficou órfão aos catorze anos de idade, foi acolhido por um tio, que residia em Veneza. Nesta megalópole, pôde desenvolver muito mais os seus talentos, para os estudos.
Mas a religião o atraia de forma irresistível. Dois anos após chegar a Veneza ele atendeu ao chamado e ingressou na Ordem dos frades menores de São Francisco de Assis. Em seguida se juntou aos capuchinhos de Verona, onde recebeu a ordenação e assumiu o novo nome, em 1582. Depois completou sua formação na universidade de Pádua. Voltou para Veneza em 1586, como professor dos noviços da Ordem, sempre evidenciando os mesmos dotes da infância.
Tornou-se especialista em línguas e sua erudição o levou à ocupar altos postos de sua Ordem e também à serviço do Sumo Pontífice. Foi provincial em Toscana, Veneza, Gênova, Suíça e comissário no Tirol e na Baviera, pregando firmemente a ortodoxia católica contra a reforma protestante. Além de animar as autoridades e o povo na luta contra a dominação dos turcos muçulmanos. Lourenço foi, inclusive, o Superior Geral da sua própria Ordem e embaixador do Papa Paulo V, com a missão de intermediar príncipes e reis em conflito.
Lourenço de Brindisi morreu no dia do seu aniversário em 1619, durante sua segunda viagem à Península Ibérica, na cidade de Lisboa, em Portugal. Foi canonizado em 1881 e recebeu o título de "Doutor da Igreja" em 1959, outorgado pelo Papa João XXIII. A sua festa é celebrada, um dia antes do aniversário de sua morte, acontece no dia 21 de julho.

Liturgia da Palavra: À procura do tesouro escondido e da pérola preciosa

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração

SÃO PAULO, quinta-feira, 21 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à Liturgia da Palavra do 17º domingo do Tempo Comum – 1 Rs 3,5.7-12; Rm 8, 28 -30; Mt 13, 44 -52 –, redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT. 
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DOMINGO XVII COMUM
À procura do tesouro escondido e da pérola preciosa
Leituras: 1 Rs 3,5.7-12; Rm 8, 28 -30; Mt 13, 44 -52
“Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8, 28 – Segunda leitura).
De onde vem ao apóstolo tamanha certeza confiante, diante das provações e contrariedades que têm acompanhado seu caminho e que acompanham o caminho de todo discípulo que escolhe seguir Jesus sem compromissos? 
A resposta vem do próprio Jesus: “Eu te louvo, ó Pai Santo, Deus dos céus e da terra: os mistérios do teu reino aos pequeninos, Pai, revelas!” (Aclamação ao evangelho. Cf. Mt 11,25).
É propriamente a sabedoria que vem do Pai, a dar aos discípulos que se abrem a Deus e ao ensino de Jesus com simplicidade de coração e fé, conhecer o verdadeiro sentido da vida em correspondência ao projeto do amor de Deus. Os pequeninos são introduzidos no mistério do reino de Deus, que atua na história e na vida deles, e conseguem afinar-se, como um instrumento musical, ao seu ritmo e ao seu projeto. Eles “sabem”, com a intuição da fé, que o Pai tem cuidadosa cura até dos pássaros do céu e das flores do campo (cf. Mt 6, 28), e se entregam com confiança a ele, como a criança em braço de sua mãe (Sl 131). 
O apóstolo ainda acrescenta: “Depois disso, que nos resta dizer? Se Deus está conosco, quem estará contra nós?... Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada?... Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8, 31.35.37). No pano de fundo destas palavras é fácil ler a experiência pessoal de Paulo, assim como a de inúmeros cristãos e cristãs que, ao longo da história do povo de Deus, chegaram a cumprir com grande criatividade obras maravilhosas de caridade, de cultura e de desenvolvimento social, muitas vezes sem recursos humanos relevantes, porém com a forca do amor. Às vezes até mesmo com o dom da própria vida, em testemunho inabalável da fé. 
Uma testemunha excepcional do nosso tempo, Etty Hillesum, uma jovem judia morta no campo de concentração de Auchwitz durante a Segunda Guerra Mundial (1943), escreve no seu diário, encontrado depois da sua morte: “Eu acredito que da vida se possa levar sempre algo de positivo em qualquer circunstância; temos, porém, o direito de afirmá-lo, somente se pessoalmente não fugimos das circunstâncias piores” (Diário). E ainda: “Não são os acontecimentos a contar na vida... mas o que nos tornamos graças aos acontecimentos” (Idem).
E nós não pertencemos por acaso à mesma família de Deus, circundados do mesmo cuidado do Pai e acompanhados por tantas testemunhas que, confiando na fidelidade dele, largaram tudo para ganhar o tesouro escondido no campo e a pérola preciosa? Jesus nos convida a entrar no mesmo caminho e a nos empenharmos, guiados pela sabedoria do Espírito, na busca do tesouro da vida plena, deixando de lado tudo o que pode nos impedir de alcançar a meta e investindo todas as nossas energias na sua aquisição. 
O reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” (Mt 13, 44). Somente quem tem a sabedoria do Espírito consegue reconhecer no campo indistinto das situações da vida, o tesouro escondido do dom de Deus, da sua proposta e do seu chamado para uma vida diferente. Daí sua decisão de “vender tudo”, abandonar o que todo mundo acha importante para o sucesso da vida, para “comprar o campo”, seguir o chamado interior, alegre mesmo correndo o risco do investimento. 
“Jesus dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará” (Lc 9, 23-24).
Assim nasce e se desenvolve toda autêntica vocação do seguimento a Cristo e de toda escolha de configurar a ele a própria vida, partindo da íntima experiência do encontro com ele mesmo. Para aqueles que não têm esta luz/sabedoria do Espírito e não experimentaram o encontro com Cristo ao centro da própria vida, a busca apaixonada pelo tesouro escondido e a pérola mais preciosa do que as outras, parecem incompreensíveis. “O reino dos céus também é como um comprador de pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.... Compreendestes tudo isso? Eles responderam: ‘Sim’.” (Mt 13, 45-46; 51 ). 
Quem se coloca na escola de Jesus, o mestre que sabe valorizar os tesouros da tradição dos padres, conferindo-lhes uma nova atualidade, se torna ele mesmo mestre de sabedoria e de vida (cf Mt 13, 52). O discípulo de Jesus se torna mestre para os outros na medida em que permanece e vive como verdadeiro discípulo de Jesus, o único Mestre (cf Mt 23,8).
Às vezes, a procura do tesouro escondido e da pérola preciosa se torna motivo de escárnio e de contraste. Jesus nos alerta: “Não penseis que vim trazer paz, mas espada.” (cf Mt 10,34-35). Mais ainda nos desafia: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a tração e o caruncho corroem e os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu.... pois onde está teu tesouro, ali está teu coração” (Mt 6,19-20).”
Este é o tesouro precioso que Salomão, consciente da sua falta de experiência (“eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar”), pede ao Senhor, e que o Senhor lhe concede com generosidade divina: “Dai ao teu servo um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir o bem e o mal... Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas... mas sim, sabedoria... dou-te um coração sábio e inteligente”  (1 Rs 3,4; 11-12). 
A relação vital com a palavra do Senhor, para aqueles que se abrem a ela, se torna a verdadeira riqueza da vida e fonte da autêntica sabedoria e alegria: “A lei da vossa boca, para mim, vale mais do que milhões em ouro e prata... Maravilhosos são os vossos testemunhos, eis porque meu coração os observa! Vossa palavra, ao revelar-se ilumina, e ela dá sabedoria aos pequeninos” ( Salmo Responsorial 118). 
Eis uma vida unificada e potenciada a partir da relação com o Senhor. A experiência de cada dia, pelo contrário, nos encontra muitas vezes em tensão entre a multiplicidade de sentimentos, desejos, medos, especialmente no que diz respeito a nós mesmos, aos outros, a Deus. Por outro lado, há sempre a exigência de nos encontrarmos, encontrarmos o nosso centro.
A rápida sucessão de impulsos, sentimentos, desejos, frustrações nos atravessam, até nos percebermos quase que esvaziados, roubados, desnorteados e exilados de nós mesmos.
Percebemos a necessidade de reencontrar a camada profunda das águas vivas, camada esta que irriga a vida e nos faz sentir em nossa casa. Precisamos aprender a lidar com as solicitações sem número que vêm do exterior (TV – Rádio – conversas, etc.), mas também com o fluxo das emoções e pensamentos, que todo dia nos impelem a ficar fora de nós mesmos. Isso se faz necessário para recuperarmos a capacidade de “habitar conosco”. 
“Conhece a ti mesmo!”, dizia um antigo filósofo, profundo conhecedor da tendência ilusória humana de procurar fora de si mesmos as razões dos próprios conflitos, assim como a nascente da própria felicidade. 
A partir desta experiência de fragmentação e desta inata exigência de unidade interior, é possível iniciar um autêntico processo de unificação do coração, centrado sobre o tesouro escondido no campo da vida. A inquietação que acompanha sua busca é graça. Impele-nos a discernir e a escolher entre os peixes bons e os peixes que não prestam, e que se encontram misturados na rede da vida (cf Mt 13, 47-48). 
São Romualdo [1], homem iluminado pela sabedoria de Deus, tendo diante de si a parábola da rede cheia de todo tipo de peixe, indicava aos discípulos o caminho para voltar ao centro de si mesmos e ali encontrar a nascente profunda da vida: “Fica sentado na tua cela, como no paraíso. Expele da tua memória o mundo inteiro e joga-o atrás de ti. Fica vigilante e atento aos bons pensamentos, como um bom pescador aos peixes. Única via, para ti, encontra-se nos salmos. Não deixá-la mais” (Pequena regra de ouro, em Bruno Bonifácio, Vida dos cinco Irmãos, c.19)
Ler um livro, refletir sobre nós mesmos e sobre os eventos, além das emoções e das aparências imediatas, meditar a Palavra de Deus, é caminho de sabedoria, é caminho de oração, é caminho para aprender a “governar a vida”, segundo a sábia oração de Salomão. É caminho para reconhecer que de verdade, “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8, 28).
A partir do processo de unificação interior na sua relação com o Senhor, - que constitui o centro do evangelho e da espiritualidade cristã - se amplia e se aprofunda a visão da realidade, e se constroem sobre a rocha as escolhas fundamentais da vida. Constatamos o quanto seja difícil manter o leme do barco na direção deste horizonte unificante. E precisamos nos perguntar repetidamente: “Onde estou?”, “Para onde estou dirigindo-me?”.
Caminhar rumo uma vida sempre mais unificada no Senhor, e dele aprender a tudo abraçar com amor e liberdade, é cumprir com Cristo a passagem da páscoa, é a meta do projeto de Deus que fazer encontrar novamente a todas as coisas o próprio centro unificador em Cristo.  
Um certo desnível entre a perspectiva e a meta marca com certeza o caminho do discípulo. É a nossa cruz e a nossa salvação! Antes de tornar-se razão para desanimar, se traduz em tomada de consciência da nossa condição de peregrinos rumo à plenitude da páscoa eterna, que coincide com a harmonia original: “Ainda peregrinos neste mundo, não só recebemos, todos os dias, as provas de vosso amor de pai, mas também possuímos, já agora, a garantia da vida. Possuindo as primícias do Espírito... esperamos gozar, um dia, a plenitude da páscoa eterna.” (Prefácio dos domingos, VI. Seu uso resulta bem apropriado na missa de hoje).
Desta consciência de povo peregrino, brota a invocação confiante da Igreja: “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo. Redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam” (Oração do Dia).
Notas: 
1. São Romualdo (+ 1027) é o pai espiritual dos monges beneditinos camaldolenses. No ano 1012 ele fundou o Sacro Eremitério de Camáldoli, que se tornou a Casa mãe da Congregação Beneditina que deste lugar assumiu o nome de “Camaldolense”. No ano próximo os monges camaldolenses celebrarão o milênio da fundação de Camáldoli, onde a comunidade monástica vive  sem interrupção até o presente. Para um contato com o ensino espiritual de Romualdo e da tradição camaldolense, se pode consultar: A. Barban – J.Wong (ed); Como água da fonte. A espiritualidade beneditina camaldolense entre memória e profecia; Ed. Loyola, São Paulo 2009

Evangelho (Mateus 13,10-17)

O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 10os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado.
12Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não vêem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem.
14Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’.
16Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Intercessão dos Santos

Todos os santosDesde os tempos apostólicos a Igreja ensina que os que morreram na amizade do Senhor, não só podem como estão orando pela salvação daqueles que ainda se encontram na terra. Tal conceito é conhecido como a intercessão dos santos.
A Doutrina
Sobre a doutrina da intercessão dos santos, o Catecismo da Igreja Católica ensina:
"Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade... Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na terra... Sua solicitude fraterna ajuda, pois, muito a nossa debilidade." (CIC 956)
Por tanto para a Igreja Católica, os santos intercedem por nós junto ao Pai, não pelos seus méritos, mas pelos méritos de Cristo Nosso Senhor, o único Mediador entre Deus e os homens.
Objeções
Os adeptos do fundamentalismo bíblico normalmente apresentam uma série de objeções à doutrina da intercessão dos santos. Neste artigo iremos confrontar as principais:
1a. objeção: Cristo é o único mediador entre Deus e os homens.
Esta é a principal objeção à doutrina da intercessão dos Santos. Os adeptos desta objeção fundamentam sua posição em 1 Tim 2,5 onde lemos: "Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus". Para eles, a Sagrada Escritura não deixa dúvidas de que só Jesus pode interceder pelos homens junto a Deus.
Se isto é verdade, por que São Paulo ensinaria que nós cristãos devemos dirigir orações a Deus em favor de outras pessoas? Vejam 1Tim 2,1: "Acima de tudo, recomendo que se façam súplicas, pedidos e intercessões, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade."
No exposto acima não está São Paulo nos pedindo para que sejamos intercessores (mediadores) junto a Deus por todas as pessoas da terra? Estaria então o Santo apóstolo se contradizendo? É claro que não. A questão é que a natureza da mediação tratada no versículo 1 é diferente da do versículo 5.
A mediação tratada em 1Tm 2,5 refere-se à Nova e Eterna Aliança. No AT a mediação entre Deus e os homens se dava através da prática da Lei. No NT, é Cristo que nos reconcilia com Deus, através de seu sacrifício na cruz. É neste sentido que Ele é nosso único mediador, pois foi somente através Dele que recuperamos para sempre a amizade com Deus, como bem foi exposto por São Paulo: "Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos." (Rom 5,19)
Por tanto, a exclusividade da medição de Cristo refere-se à justificação dos homens. A mediação da intercessão dos santos é de outra natureza, referindo-se à providência de Deus em favor do nosso semelhante. Desta forma, o texto de 1Tm 2,5 dentro de seu contexto não oferece qualquer obstáculo à doutrina da intercessão dos santos.
2a. objeção: os santos não podem interceder por que após a morte não há consciência
Os defensores desta objeção usam como fundamento as palavras do Eclesiastes: "Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida" (Ecl. 9,5) e ainda "Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria" (Ecl. 9,10).
Já que a Bíblia é um conjunto coeso de livros, não podemos aceitar a doutrina da ?dormição? ou ?inconsciência? dos mortos simplesmente pelo fato de que há versículos claros na Sagrada Escritura que mostram que os mortos não estão nem "dormindo" e nem "inconscientes" (cf. Is 14, 9-10; 1Pd 3,19; Mt 17,3; Ap 5,8; Ap 7,10; Ap 6,10); o que faria alguém pensar que há contradições na Bíblia.
A questão é que os versículos citados do Eclesiastes não fazem referência a um estado mental dos mortos, mas sim ao infortúnio espiritual em que se encontram por causa do lugar onde estão. Os mortos os quais os textos se referem são aqueles que morreram na inimizade de Deus, e não a qualquer pessoa que morreu. Vejamos os versículos abaixo:
"Ignora ele que ali há sombras e que os convidados [da senhora Loucura] jazem nas profundezas da região dos mortos" (Prov 9,18)
"O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos" (Prov 15,24)
Os versículos acima mostram que a região dos mortos é um lugar de desgraça, onde são encaminhados os inimigos de Deus. Isto é ainda mais evidente em Prov 15,24. O sábio é aquele que guarda a ciência de Deus, este quando morrer não vai para a "morada dos mortos?. As expressões ?morada dos mortos? ou ?região dos mortos? fazem alusão a um lugar de desgraça, onde os inimigos de Deus estão privados da Sua Graça.
Voltando aos versículos do Eclesiastes, o escritor sagrado ao escrever que para os mortos ?não há mais recompensa?, ?não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria?, refere-se unicamente ao infortúnio que existe ?na região dos mortos, para onde? eles vão. Eles quem? Os que estão mortos para Deus.
Por tanto, dentro de seu contexto, os versículos do Eclesiastes também não oferecem qualquer imposição à doutrina da intercessão dos santos.
3a. objeção: os santos não podem ouvir as orações dos que estão na terra porque não são oniscientes e nem onipresentes
São Paulo nos ensina que a Igreja é o corpo de Cristo . Desta forma, os que estão unidos a Cristo através de seu ingresso na Igreja, são membros do Seu corpo. Isso quer dizer que tantos nós que estamos na terra, quanto os que já morreram na amizade do Senhor, todos somos membros do Corpo Místico de Cristo, onde Ele é a cabeça. Vejam:
Ø       São Paulo ensina que a Igreja é corpo de Cristo: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24)
Ø       São Paulo ensina que somos membros do corpo de Cristo e por isto os cristãos estamos ligados uns aos outros: "assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro" (Rom 12,5)
Ø       São Paulo ensina que Cristo é a cabeça do seu corpo que é a Igreja: "Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja" (Col 1,18)
Isso quer dizer que nós e os santos (que estão na presença de Deus) estamos ligados, pois somos membros de um mesmo corpo, o corpo de Cristo, que é a Igreja.
Assim como minha mão direita não pode se comunicar com a esquerda sem que esse comando tenha sido coordenado pela minha cabeça (caso contrário seria um movimento involuntário), da mesma forma, no Corpo de Cristo os membros não podem se comunicar sem que essa comunicação aconteça através da cabeça que é Cristo. Desta forma, quando nós pedimos para que os santos intercedam por nós junto a Deus (comunicação de um membro com o outro no corpo de Cristo), isso acontece através de Cristo. Assim como a nossa cabeça pode coordenar movimentos simultâneos entre os vários membros de nosso corpo, Cristo que é a cabeça da Igreja e é onisciente e onipresente possibilita a comunicação entre os membros do Seu corpo.
Por tanto, a falta de onipresença e onisciência dos santos não apresenta qualquer impedimento para que eles conheçam ou recebam nossos pedidos e então possam interceder por nós junto a Deus.
4aobjeção: nós não podemos dirigir nossa orações aos santos pois isto caracteriza evocação dos mortos que é severamente proibida na Bíblia.
Esta objeção baseia-se principalmente nos versículos abaixo:
"Não se ache no meio de ti quem pratique a adivinhação, o sortilégio, a magia, o espiritismo, aevocação dos mortos: porque todo homem que fizer tais coisas constitui uma abominação para o Senhor" (Dt 18, 9-14) (grifos nossos).
"Se uma pessoa recorrer aos espíritos, adivinhos, para andar atrás deles, voltarei minha face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo. (...) Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos, será punido de morte" (Lev 20, 6 - 27). (grifos nossos).
Conforme vimos, Deus abomina a evocação dos mortos. No entanto, há uma diferença tremenda entre evocar os mortos e dirigir nossos pedidos de orações aos santos.
A evocação dos mortos é caracterizada pelo pedido de que o espírito do defunto se apresente e então se comunique com os vivos como se ainda estivesse na terra. Esta prática é condenada por Deus, pois em vez de confiarmos na Providência Divina quanto ao futuro e às coisas que necessitamos, deseja-se confiar nas instruções dos espíritos. Conforme a Sagrada Escritura dá testemunho em I Samuel 28.
Na intercessão dos santos, não estamos pedindo que o santo se apresente para ?bater um papo? a fim obter qualquer tipo de informação, mas sim, dirigimos a eles nossos pedidos de oração, como se estivéssemos enviando uma carta solicitando algo (o que é bem diferente de evocar mortos). Na intercessão dos santos continuamos confiando na Providência Divina, pois os santos são apenas mediadores, logo, quem atende aos nossos pedidos é Deus.
Desta forma, as proibições divinas quanto à prática de espiritismo não se aplicam à doutrina da intercessão dos santos.
5a. objeção: não há sequer uma única referência bíblica em relação à intercessão dos santos
Há diversos versículos bíblicos que mostram que os santos oram na presença de Deus. Vejamos:
"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários.  E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?  Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos" (Ap 6,9-11).
No trecho acima, os santos estão clamando a Deus por Justiça. Alguém poderia dizer: ?mas eles estão intercedendo por eles mesmos e não pelos que ficaram na terra?. Ora, e o que impede que o façam pelos que estão na terra? São Paulo mesmo não recomenda que oremos pelos outros? (cf. 1Tm 2,1). Por alguma razão estariam os santos incapazes de continuarem orando pelos que estão na terra? Ora, alguém que esteja no seu juízo perfeito, há de convir que, o fato dos santos estarem na presença de Deus, não é motivo impeditivo para que intercedam pelos outros, muito pelo contrário, não há melhor lugar e momento para fazê-lo. Veja ainda:
"Os quatro viventes e os vinte e quatro anciões se prostraram diante do Cordeiro. Tinha cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfumes, que são as orações dos santos" (Ap 5,8). "A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.? (Ap 8,4).
Nos versículos acima os santos oram para Deus. Por que estariam orando, já que estão salvos e gozando da presença do Senhor? Oram em nosso favor, para que os que estão na terra também possam um dia estar com eles na presença do Senhor.
No livro do profeta Jeremias lemos:
"Disse-me, então, o Senhor: Mesmo que Moisés e Samuel se apresentassem diante de mim, meu coração não se voltaria para esse povo. Expulsai-o para longe de minha presença! Que se afaste de mim!? (Jr 15,1).
No tempo do profeta, ambos Moisés e Samuel estavam mortos. Que sentido teria este versículo caso não fosse possível que os dois intercedessem por Israel?
O Testemunho dos primeiros cristãos
Vejamos agora o que professava os cristãos no tempo em que não havia divisão na Cristandade, em relação à doutrina da intercessão dos santos:
"O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos juntos também se unem a eles na oração" (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração).
"Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossa orações pelos irmãos" (Cipriano de Cartago, 200-258 d.C. Epístola 57)
"Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos". (Santo Hilário de Poitiers, 310-367 d.C).
"Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires, para que Deus, por suas intercessões e orações, se digne receber as nossas." (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).
"Em seguida (na Oração Eucarística), mencionamos os que já partiram: primeiro os patricarcas, profetas, apóstolos e mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba nossa oração" (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).
"Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?" (São Jerônimo, 340-420 d.C, Adv. Vigil. 6).
"Portanto, como bem sabem os fiéis, a disciplina eclesiástica prescreve que, quando se mencionam os mártires nesse lugar durante a celebração eucarística, não se reza por eles, mas pelos outros defuntos que também aí se comemoram. Não é conveniente orar por um mátir, pois somos nós que devemos encomendar suas orações" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 159,1)
"Não deixemos parecer para nós pouca coisa; que sejamos membros do mesmo corpo que elas (Santa Perpétua e Santa Felicidade) (...) Nós nos maravilhamos com elas, elas sentem compaixão de nós. Nós nos alegramos por elas, elas oram por nós (...) Contudo, nós todos servimos um só Senhor, seguimos um só Mestre, atendemos um só Rei. Estamos unidos a uma Cabeça; nos dirigimos a uma Jerusalém; seguimos após um amor, envolvendo uma unidade" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 280,6)
"Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas [1Jo 5,16; Tg 5,14-15] ou ainda a  misericórdia e a fé" (São João Cassiano. 360-435 d.C. conferência 20).
Conclusão
Como pudemos ver, a doutrina da intercessão do santos, não é invenção do catolicismo (como pensam alguns), mas sim, uma legítima doutrina cristã, embasa tanto nas Sagradas Escrituras, quanto na Tradição Apostólica. Os primeiros cristãos jamais tiverem dúvidas quanto a ela (note que este tema jamais foi centro de disputas conciliares). Esta doutrina confirma o Amor de Deus para conosco e Seu plano de que sejamos uns para outros instrumentos deste Amor.