quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Verdadeira devoção mariana – ou a escravidão de amor a Nossa Senhora

Paz e Bem!
Comemora-se neste ano o terceiro centenário de um livro providencial,Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Escrito em 1712, ele apresenta um aprofundamento essencial da devoção mariana, e sua extraordinária difusão universal constitui marco decisivo na história da espiritualidade católica.
Neste ano comemoram-se 300 anos do célebre e insuperável livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, doutor marial por excelência, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Dada sua importância ímpar no desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora, o escopo deste artigo é proporcionar a nossos leitores uma visão de conjunto dessa obra providencial que a justo título pode ser qualificada de profética.
 I São Luís Maria Grignion de Montfort, Doutor, Apóstolo e Profeta
Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista Grignion e de Joana Roberta de la Vizeule, Luís nasceu no dia 31 de janeiro de 1673 em Montfort-la-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha (França). Ao ser crismado, fez ques­tão de acrescentarMaria a seu nome. Mais tarde passou a ser conhecido como “Padre Montfort”, do nome de sua cidade natal.
Luís fez seus estudos com os jesuítas de Rennes (Bretanha), e depois no afamado seminário de São Suplício, de Paris, ordenando-se sacerdote em 1700.
Nosso santo fundou, no Hospital Geral de Poitiers, uma associação de donzelas que “dedicou à Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho”.1
Entretanto, certos clérigos e leigos infeccionados pela heresia jansenista (es­pécie de protestantismo camuflado) começaram, juntamente com livres-pensado­res, uma campanha de calúnia contra esse missionário, tachando-o de “extrava­gante”,acusando-o de pregar uma devoção “exagerada” à Mãe de Deus. Ele pre­cisou dissolver sua associação e retirar-se do Hospital, apesar dos protestos vee­mentes dos pobres e dos enfermos.
O Padre Montfort empreendeu então uma peregrinação a Roma, tendo sido nomeado Missionário Apostólico pelo Papa Clemente XI. Permanecia, entretanto, sob a dependência dos bispos, boa parte deles tisnada pela heresia jansenista.
Recusado e expulso de várias dioceses — uma vez, na festa da Assunção, foi proibido até mesmo de celebrar a Missa, tendo que partir imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha para fazê-lo —, ele recebeu finalmente autorização para pregar nas dioceses de Luçon e de La Ro­chelle, cujos bispos eram meritoriamente antijansenistas. Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, sublevou-se contra a ateia, sanguinária e regicida Revolução Francesa.
Ardente devoto de Maria Santíssima e da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, Luís Grignion escreveu numerosos cân­ticos religiosos e livros de espiritualidade, entre eles a Carta Circular aos Amigos da Cruz e o Trata­do da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.
Logo após o falecimento de São Luís Grignion de Montfort (no dia 28 de abril de 1716, aos 43 anos, em Saint-Laurent-sur-­Sèvre), ocorreram numerosos e assinalados milagres por sua intercessão. Ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 1888 e canonizado por Pio XII em 27 de julho de 1947. Sua festivida­de é celebrada pela Igreja no dia 28 de abril.

Apóstolo da Contra-Revolução

São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser considerado um apóstolo da Contra-Revolução. Seus livros e escri­tos inspiraram grandes vultos católicos no século XX, so­bressaindo-se Plinio Corrêa de Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e ardente difusor de sua doutrina. Os leitores desejosos de se aprofundar mais neste estudo poderão encontrar preciosos subsídios no seguinte link: www.pliniocorreadeoliveira.info/mariologia.asp

Profeta do Reino de Maria

Ainda sobre o aspecto profético do Tratado da Verdadei­ra Devoção, diz Plinio Corrêa de Oliveira: “Por último, in­teressa-nos oTratado [da Verdadeira Devoção] pelo aspec­to profético que o santo lhe imprimiu. São Luís Grignion é profeta no sentido restrito que esta palavra tem depois de encerrada a Revelação oficial, isto é, as suas profecias não são oficiais e obrigatórias como as da Sagrada Escritura. Mas sem dúvida ele é dotado por Deus do carisma da profe­cia, e isto se percebe pela leitura de seu livro. Ele profetiza acontecimentos que fazem antever a Revolução Francesa e a crise de nossos dias, e afirma também, com antecipação, a imensa vitória da Igreja Católica através de uma nova era do mundo, que será uma era marial. São Luís Maria Grig­nion de Montfort previu um reino de Maria que virá, e este reino será a plenitude do reino de Cristo”.2
II Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: livro profético

A inimizade entre os que são de Deus e os que são do demônio

É particularmente importante a afirmação de São Luís Grignion sobre a luta que os bons têm de manter neste vale de lágrimas: “Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem, e os filhos e servos de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele lhe deu até, desde o paraíso, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer, esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos os anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus” (n.52). O santo insiste: “Deus não pôs somente’ini­mizade, mas inimizades, e não somente entre Ma­ria e o demônio, mas também entre a posteridade dá Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem, e os filhos e escravos do demônio. [...] Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coi­sa), sempre perseguiram até hoje e perseguirão, no futuro, aqueles que pertencem à Santíssima Virgem como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacó, figurando os réprobos e os predestinados” ( n.54).
A propósito dessa inimizade, comenta Plinio Corrêa de Oliveira: “Entre Vós [a SantíssimaVir­gem] e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo, irreconciliável, eterno. As trevas odeiam a luz, os filhos das trevas odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e outros durará até a consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da Mulher e a raça da Serpente [...] E toda a história do mundo, toda a história da Igreja não é senão esta luta inexorável entre os que são de Deus, e os que são do demônio, entre os que são da Virgem, e os que são da Serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência, nem só fraqueza, mas também maldade, maldade delibera­da, culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e hu­manas que seguem a Satanás” (Via Sacra, 11ª, Estação, Catolicismo n. 3, marçode 1951).
Tratado da Verdadeira Devoção é um ver­dadeiro mundo. Sua densidade teológica e filosófica é tão grande, que para comentá-la seriam necessários vários volumes. Procu­raremos apresentar aqui apenas uma visão de conjunto da obra, detendo-nos nas partes que nos parecerem mais dignas de nota. Trata-se de uma obra verdadeiramente profética, tanto no sentido de ter aberto para as almas de escol um novo rumo de perfeição quanto pelo fato de revelar eventos futuros.
Nesse sentido, cumpriu-se ipsis verbis esta profecia, que o santo fez em relação ao próprio Tratado. Escreveu ele: “Vejo, no futuro, animais frementes, que se precipitam furiosos para dilacerar com seus dentes diabólicos este pequeno manus­crito, e aquele de quem o Espírito Santo se serviu para es­crevê-lo, ou ao menos para fazê-lo ficar envolto nas trevas e no silêncio de uma arca, a fim de que ele não apareça” (n.114).
Com efeito, após a morte do santo, algum colaborador zeloso, porém indiscreto, talvez por receio dos jansenistas, escondeu os preciosos manuscritos numa caixa de livros velhos. Sobreveio depois a funesta Revolução Francesa com suas perseguições, devastações e mortes. Isso fez com que os manuscritos, de 1712, permanecessem no olvido até serem encontrados muito mais tarde, em 1842, por um missionário da Companhia de Maria — fundada por São Luís Grig­nion — que procurava material para seus sermões.
Para ilustrar o outro aspecto da profecia — isto é, da perseguição que sofreria seu autor —, citamos aqui seu próprio testemunho, contido numa carta de 15 de agosto de 1713, que ele escreveu à sua irmã menos de três anos antes de sua morte: “Se soubésseis, no mínimo, as minhas cruzes e as minhas humilhações, duvido que desejásseis tão ardentemente ver-me; porque nunca estou em nenhum sítio sem dar um pedaço da minha cruz aos meus melhores amigos. Quem me sustenta e ousa declarar-se a meu favor, sofre as consequências e, por vezes, cai sob os pés do inferno que eu combato, do mundo, que contradigo, e da carne, que persigo. [Qualquer] formigueiro de pecados e de pecadores que eu ataque, não me concede, nem a mim nem aos meus, nenhum descanso: [estou] sempre sobre o que se agita, sempre sobre os espinhos, sobre pedras cortantes. Sou como uma bola num jogo de péla: atirado de um lado para o outro com violência; eis o destino de um pobre pecador; há 13 anos, desde que saí [do seminário] de Saint-Sulpice, que não me dão tré­guas nem repouso”.3

originalidade de Montfort

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e conduziu muitas almas no caminho da perfeição em todo o mundo. “A originalidade maior de Montfort — ­observa o Pe. Louis Perouas — consiste, provavelmente, em ter descoberto Maria como garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do apego imperceptível que se esconde em suas melhores ações. Desapego que consiste, provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de escravidão”.4
É preciso ressaltar aqui que São Luís Grignion escreveu seu Tratado para católicos autênticos.
Por isso o Pe. William Faber, célebre sacerdote oratoriano inglês do século XIX, conclui o prefácio de sua tradução do original francês do Tratado com estas palavras: “Com certeza os que vão ler este livro já amam a Deus e desejariam amá-lo ainda mais. Todos desejam alguma coisa para a sua glória: a propagação de uma boa obra, a vinda de melhores tempos, o sucesso de uma devoção. [...] Qual é, pois, o remédio que lhes falta? Qual o remédio indicado pelo próprio Deus? É, segundo as revelações dos santos, uma dilatação imensa da devoção à Santíssima Virgem. Mas, reflitamos bem, o imenso não admite restrições nem limites”. Por isso nossa devoção à Mãe de Deus deve ser sem limites.5
Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, São Luís Grig­nion expressa sua espiritualidade, centrada numa devoção filial e numa entrega total a Nossa Senhora. “Alguns teólo­gos, surpresos com as audácias do autor, e especialmente com a sua expressão preferida de sagrada escravidão, qui­seram diminuir-lhe a obra. As suas críticas, porém, não im­pediram a célebre obra de se espalhar, sem reforço de pro­paganda, com assombroso sucesso, no mundo inteiro. Hoje está traduzida em quase todas as línguas: sinal incontestável da sua utilidade e benefício na Igreja de Deus”.6

“Nossa Senhora tem sido até aqui desconhecida”

A devoção a Nossa Senhora foi se desenvolvendo ao lon­go dos séculos com as explicitações dos teólogos e os dog­mas sobre Ela promulgados, ratificados por várias aparições manais, sobretudo no século XIX e início do século XX.
Por isso o próprio São Luís Grignion afirma que, já em seu tempo, “toda a Terra está cheia de sua glória, particular­mente entre os cristãos, que a tomam como padroeira e pro­tetora em muitos países, províncias, dioceses e cidades. Inú­meras catedrais são consagradas sob a invocação do seu nome. Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra. Não há região ou país que não possua alguma de suas ima­gens milagrosas, junto das quais todos os males são curados e se obtêm todos os bens” (n.9).
Apesar disso, ele afirma na introdução ao Tratado: “Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido até aqui desconhecida, e que é esta uma das razões por que Je­sus Cristo não é conhecido como deve ser” (n.13).
Portanto, quando São Luís Grignion afirma que “a San­tíssima Virgem tem sido até aqui desconhecida”, quer ele dizer“conhecida insuficientemente”, ou “conhecida super­ficialmente”. Pois logo acrescenta: “Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece” (n.10). E continua, aplicando a Nossa Senhora as palavras de São Paulo na 1’ Epístola aos Coríntios (1 Cor 2,9): “Os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do ho­mem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça, da natureza e da glória” (n.12).
Para sanar essa lacuna, o autor apresenta uma devoção que, se bem não fosse inteiramente nova, não tinha sido muito difundida nem, sobretudo, chegado a todas suas consequên­cias, como as apresentadas pelo santo. Nesse sentido, ele afirma: “Declaro firmemente que não encontrei nem apren­di outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhan­te a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Je­sus Cristo e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santi­ficante para a alma, e útil ao próximo” (n.118).
Mesa de Trabalho de São Luis
E São Luís, entusiasmado pelo tema, exclama: “Ó, bem empregado seria o meu esforço, se este escrito, caindo nas mãos de uma alma bem nascida, nascida de Deus e de Ma­ria, e não do sangue ou da vontade da carne, nem da vontade do homem (cfr. Jo 1,13), lhe desvendasse e inspirasse, pela graça do Espírito Santo, a excelência e o prêmio da verda­deira e sólida devoção à Santíssima Virgem como vou indi­car. Se eu soubesse que meu sangue pecaminoso poderia servir para fazer entrar no coração as verdades que escrevo em honra de minha Mãe querida e soberana Senhora, da qual sou o último dos filhos e escravos, em lugar de tinta eu o usaria para formar esses caracteres, na esperança que me anima de encontrar boas almas que, por sua fidelidade à prá­tica que ensino, compensarão minha boa Mãe e Senhora das perdas que lhe têm causado minha ingratidão e infidelida­de” (n.111).

III Princípios Fundamentais da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem

São Luís inicia seu livro enunciando um princípio que vai presidir a todo o seu desenvolvimento: “Foi por in­termédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por meio dela que Ele deve rei­nar no mundo” (n.1).
Entretanto, afirma o ardoroso missionário, que, compa­rada com Deus, Maria Santíssima nada é: “Confesso, com toda a Igreja, que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada, portanto, à Majestade infinita, Ela é menos que um átomo; é, antes, um nada, pois que só Ele é ‘Aquele que é’ (Ex 3,14). E, por conseguinte, este grande Senhor, sempre independente e bastando-se a si mesmo, não tem nem teve jamais necessidade da Santíssima Virgem para a realização de suas vontades e a manifestação de sua glória. Basta-lhe querer, para tudo fazer” (n.14).
A esta afirmação categórica, o santo acrescenta: “Digo, entretanto, que supostas as coisas como são, já que Deus quis começar e acabar suas maiores obras por meio da San­tíssima Virgem depois que a formou, é de crer que não mu­dará de conduta nos séculos dos séculos, pois Deus é imutá­vel em sua conduta e em seus sentimentos” (n.15).

Necessidade de uma Mediadora Junto ao único Mediador

A mediação de Nossa Senhora é uma mediação de intercessão que recebe toda a sua eficácia dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, único Mediador.
Eco fiel da Igreja, São Luís reconhece que a mediação de Nossa Senhora não dispensa a mediação de Nosso Se­nhor Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens. Pois a mediação d’Ela é uma mediação de intercessão, que recebe toda a sua eficácia dos méritos de Nosso Senhor Je­sus Cristo, único Mediador. Ela é, pois, a Mediadora junto ao Mediador, segundo as palavras de Leão XIII“Ela deu o seu admirável assentimento, ‘em nome de todo o gênero humano’ (S. Tomas de Aquino, 3 q. 30 a. 1). Ela é aquela ‘da qual nasceu Jesus’, sua verdadeira Mãe, e por isto digna e agradabilíssima ‘Mediadora junto ao Mediador’” (Encíclica Fidentem piumque, de 20 de dezembro de 1896).
Se, pois, Cristo Jesus é nosso único Mediador junto a Deus, por que precisamos de uma medianeira junto a Ele?
Ao tratar dessa indagação, São Luís faz as seguintes per­guntas: “Será a nossa pureza suficiente para que nos permita unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual ao Pai e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai? Se Ele, por sua caridade infinita, se constituiu nosso penhor e media­neiro junto a Deus seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que devíamos, quer isto dizer que lhe devemos menos respeito e temor por sua majestade e santidade?” (n.85).
E acrescenta: “Digamos, pois, ousadamente, com São Bernardo, que temos necessidade de uma medianeira junto ao Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por Ela Jesus Cristo veio a nós, e por Ela devemos ir a Ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista de sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza ou, ainda, devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e a intercessão de Maria, nossa Mãe” (n.85). Em consequência, conclui São Luís que “para ir a Jesus, é preciso ir a Maria, pois Ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que preconizo, é esta a ordem perfeitamente observada” (n.86).

“Deus quis servir-se de Maria na Encarnação”

São Luís Grignion dá, então, dois princípios para mos­trar a necessidade da devoção à Santíssima Virgem.
O primeiro é: “Deus quis servir-se de Maria na Encar­nação”.
“Suspiraram [pelo Messias] os patriarcas e pedidos in­sistentes fizeram os profetas e os santos da Antiga Lei”, afir­ma ele, porém “só Maria o mereceu e alcançou graça diante de Deus, pela força de suas orações e pela sublimidade de suas virtudes”. Isso “porque o mundo era indigno, diz Santo Agostinho, de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai, Ele o deu a Maria, a fim de que o mundo o recebesse por meio dela” (n.16).
Isso tem como consequência que “Jesus Cristo deu mais glória a Deus submetendo-se a Maria durante 30 anos, do que se tivesse convertido toda a Terra pela realização dos mais estupendos milagres”. Por isso, exclama o santo: “ó quão altamente glorificamos a Deus quando, para lhe agra­dar, nos submetemos a Maria, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo” (n.18).

“Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas”

O segundo princípio expresso por São Luís é conse­quência do primeiro: querendo Deus servir-se de Maria na Encarnação, quer servir-se também de Maria na san­tificação das almas.
Com efeito, afirma o doutor marial: “A conduta das Três Pessoas da Santíssima Trindade, na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um modo visível, na Igreja, e esse procedimento há de perdurar até a consumação dos séculos, na última vinda de Cristo” (n.22).
Pois “Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensado­ra de tudo que Ele possui. Deste modo Ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, quanto quer, como quer e quando quer, e dom nenhum é concedido aos homens que não passe por suas mãos virginais” (n.25).
Aqui São Luís Grignion insere um parêntesis para dizer que, caso se dirigisse “aos espíritos fortes desta época”, ele poderia provar suas assertivas com citações das Escrituras, dos Santos Padres e dos teólogos. “Falo, porém — continua ele — aos pobres e aos simples que, por serem de boa vonta­de e terem mais fé que a maior parte dos sábios, crêem com mais simplicidade e mérito, e, portanto, contento-me de lhes apresentar simplesmente a verdade, sem me preocupar em citar todos os textos latinos” (n.26).

Maria é a Rainha dos Corações

Como resultado de quanto ficou dito até aqui, São Luís apresenta duas consequências:

1ª) Maria é a Rainha dos Corações

Afirma o santo: “Maria é a Rainha do Céu e da Terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, [...] o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, i.é, em sua alma, e é principalmente nas almas que Ela é mais glorifi­cada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la a Rainha dos Corações” (n.38).
Cabe aqui mais um comentário deste ilustre batalhador pela glória de Maria que foi Plinio Corrêa de Oliveira, ao analisar esta obra: “A derrota do espírito do mundo e a restauração da civilização sobre os princípios da Igreja Católica não começam, portanto, por meio da política, das obras, do talento ou da ciência. Na época mesma de São Luís Grignion, Bossuet encantava e deslumbrava Versalhes e Paris com seus sermões; entretanto, para evitar a derrocada religiosa da França, não foram decisivos. O começo da regeneração de todas as coisas está na piedade, no afervoramento da vida interior, está propriamente nos fundamentos religiosos da vida de um povo. O apostolado essencial é de caráter estritamente religioso: afervorar, formar na piedade, formar o caráter. O mais são consequências, são complementos. Importantes, é verdade, mas complementos”.

2ª) Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim

O santo autor divide esta consequência em três parágra­fos:
1. A devoção à santa Virgem é necessária a todos os ho­mens para conseguirem a salvação.
São Luís afirma que, conforme a opinião de vários san­tos, “a devoção à Santíssima Virgem é necessária à salva­ção, e que é um sinal infalível de condenação [...] não ter estima e amor à Santíssima Virgem” (n.40).
Argumenta o santo que, “assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatu­ral, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus e os predestinados têm Deus por pai e Maria por mãe. Quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai”. Como consequência, diz São Luís Grig­nion, “os réprobos, os hereges, os cismáticos, etc., que odei­am ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Vir­gem, não têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por Mãe” (n.29).
Portanto, a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a salvação.
2. A devoção à Santíssima Virgem é mais necessária ainda àqueles chamados a uma perfeição particular
“Se a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem simplesmente a salvação, é ain­da mais para aqueles que são chamados a uma perfeição particular; nem creio que uma pessoa possa adquirir uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo, sem uma grande união com a Santíssima Virgem e uma grande dependência de seu socorro” (n.43). Porque “os mais santos, as almas mais ricas em graça e em virtudes, serão as mais assíduas em rogar à Santíssima Vir­gem que lhes esteja sempre presente, como seu perfeito modelo a imitar, e que as socorra com seu auxílio poderoso” (n.46).

Devoção mais apta para nos despojar do nosso fundo mau

São Luís Grignion afirma que, para chegarmos à perfeição, devemos nos despojar do fundo mau que há em nós, consequência do pecado original. Pois, diz ele: “Nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós. [...] Quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado original e pelo pecado atual, suas graças e orvalhos celestiais ou o vinho delicioso de seu amor, estes dons divinos ficam ordinariamente estragados ou manchados pelo mau germe e mau fundo que o pecado deixou em nós; nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disto se ressentem. É portanto de grande importância, para adquirir a perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo, despojar-nos de tudo que de mau existe em nós. Do contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e odeia infinitamente a menor mancha na alma, nos repelirá e de modo algum se unirá a nós” (n.78).
“Por isso, conclui ele, é preciso escolher, entre todas as devoções à Santíssima Virgem, a que nos leva com mais cer­teza a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a devoção melhor e mais santificante, pois é mister reconhecer que nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais santificante”.
E essa devoção é exatamente a da sagrada escravidão à Santíssima Virgem, como ele explica: “A prática que quero revelar é um desses segredos da graça, desconhecido da maior parte dos cristãos, conhecido de poucos devotos, praticado e apreciado por um número bem diminuto” (n. 82).

As devoções falsas

Antes de tratar da verdadeira devoção, o santo alerta so­bre os falsos devotos e as devoções falsas à Santíssima Vir­gem:
“Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devo­ções à Santíssima Virgem”.
E passa a descrevê-los:
1°) Os devotos críticos, que vivem criticando as práticas de devoção das pessoas simples e de boa fé.
2°) Os devotos escrupulosos, que receiam desonrar o Filho honrando a Mãe, e rebaixá-Lo se a exaltarem demais.
3°) Os devotos exteriores, que fazem consistir suas devoções só em práticas exteriores.
4°) Os devotos presunçosos, pecadores ou amantes do mundo, que escondem seus defeitos e dizem que Deus os perdoará porque são devotos da Santíssima Virgem.
5°) Os devotos inconstantes, que veneram a Santíssima Virgem por intervalos, segundo o capricho.
6°) Os devotos hipócritas, que cobrem seus pecados e maus hábitos com o manto da Virgem para passar por aquilo que não são.
7°) Os devotos interesseiros, que recorrem à Virgem quando têm alguma necessidade material (cfr. ns. 92 e ss.).

Características da verdadeira devoção

Pelo contrário, a verdadeira devoção à Santíssima Vir­gem é:
1°) Interior, isto é, parte do espírito e do coração.
2°) Terna, isto é, cheia de confiança na Santíssima Vir­gem.
3°) Santa, isto é, leva a pessoa a evitar o pecado e a imi­tar suas virtudes.
4°) Constante, isto é, firma uma alma no bem e ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção.
5°) Desinteressada, isto é, leva a alma a buscar não a si mesma, mas somente a Deus e sua Mãe Santíssima. (ns. 105­-110)

A consagração a Maria é a mais perfeita consagração a Jesus Cristo

São Luís diz que a devoção que ele prega é a “verdadeira devoção”. Por quê? Ele esclarece: “A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos conformamos, unimos e consagra­mos mais perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa perfeição consiste em sermos conformados, unidos e consa­grados a Ele. Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de todas as devoções, a que mais consagra e conforma uma alma a Nos­so Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, quanto mais uma alma se consagrar a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo. Eis por que a perfeita con­sagração a Jesus Cristo nada mais é que uma perfeita e intei­ra consagração à Santíssima Virgem [...] ou, por outra, uma perfeita renovação dos votos e promessas do batismo” (n.120).
O autor do Tratado recomenda com empenho que o fiel faça sua consagração à Santíssima Virgem num dia determi­nado, sugerindo para isso diversas orações e práticas piedo­sas que devem precedê-la, as quais podem ser encontradas em qualquer edição do livro ou mesmo na internet, onde há vários sites contendo a íntegra do Tratado. Em resumo, essa preparação consiste em 12 dias iniciais, dedicados a “desapegar-se do espírito do mundo”, seguidos de três semanas para “encher-se de Jesus Cristo por intermédio da Santíssima Virgem”.
A primeira semana é dedicada a “pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição de seus pecados”; a segunda “em conhecer a Santíssima Virgem”;a terceira “em conhecer a Jesus Cristo”.
“Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e comunga­rão na intenção de se darem a Jesus Cristo na condição de es­cravos por amor, pelas mãos de Maria”. E depois da comunhão recitarão a sublime fórmula da “Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, pelas mãos de Maria”.

IV A essência da Verdadeira Devoção

São Luís inicia a construção do Calvário de Pont-Château
A consagração ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort não é uma consagração qualquer a Nossa Senhora, mas a consagração mais radical possível e, por isso, a mais perfeita. Explica o santo:
“Esta devoção consiste, portanto, em entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por Ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É preciso dar-lhe:
1°) nosso corpo com todos os seus membros e sentidos;
2°) nossa alma com todas as suas potências;
3°) nossos bens exteriores, que chamamos de fortuna, presentes e futuros;
4°) nossos bens interiores e espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras passadas, pre­sentes e futuras.
“Numa palavra, tudo que temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo que, no porvir, poderemos ter na ordem da natureza, da graça e da glória, e isto sem nenhuma reserva, sem a reserva sequer de um real, de um cabelo, da menor boa ação, para toda a eternidade, sem pretender nem esperar a mínima recompensa de sua oferenda e de seu serviço, a não ser a honra de pertencer a Jesus Cristo por Ela e nela, mesmo que esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e reconhecida criatura” (n.121).

Entrega total à Santíssima Virgem

Segue-se que “uma pessoa, que assim voluntariamente se consagrou e sacrificou a Jesus Cristo por Maria, já não pode dispor do valor de nenhuma de suas boas ações. Tudo o que sofre, tudo o que pensa, diz e faz de bem, pertence a Maria, para que Ela de tudo disponha conforme a vontade e para maior glória de seu Filho, sem que, entretanto, esta dependência prejudique de modo algum as obrigações de estado no qual esteja presentemente, ou venha a estar no futuro” (n.124).
Alguns dirão: “Se eu der à Santíssima Virgem todo o valor de minhas ações para que Ela o aplique a quem quiser, terei de sofrer talvez muito tempo no purgatório”.
O santo responde: “Esta objeção, produto do amor-pró­prio e da ignorância da liberalidade de Deus e de sua Mãe Santíssima, destrói-se por si mesma. Uma alma, cheia de fervor e generosa, que antepõe os interesses de Deus aos seus próprios, que tudo que tem dá a Deus inteiramente, sem reserva, que só aspira à glória e ao reino de Jesus Cristo por intermédio de sua Mãe Santíssima, e que se sacrifica completamente para obtê-lo, esta alma generosa, repito, e liberal, será castigada no outro mundo por ter sido mais liberal e desinteressada que as outras? Muito ao contrário, é a esta alma, como veremos, que Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima se mostram mais generosos neste mundo e no outro, na ordem da natureza, da graça e da glória” (n.133).

“Escravidão por amor” ou “Sagrada escravidão”

Essa entrega total à Santíssima Virgem não é uma con­sagração como as demais: na perspectiva de São Luís Grig­nion de Montfort, ela constitui uma verdadeiraescravidão; porém, uma “escravidão por amor” (cfr. ns. 56, 68), ou “Sagrada escravidão”.
Para bem estabelecer o caráter da escravidão a Nossa Senhora, São Luís mostra a diferença existente entre uma simples servidão entre os cristãos, pela qual um homem se põe a serviço de outro por um certo tempo, “recebendo de­terminada quantia ou recompensa”, e a escravidão, pela qual um homem fica inteiramente dependente de outro, sem es­perar recompensa alguma, tendo o segundo sobre o primei­ro até o direito de vida e de morte, pelo menos como era nos tempos primitivos e entre os pagãos (ns. 69ss).
O santo continua explicando que todos nós, antes do ba­tismo, éramos escravos do demônio, e que o batismo nos transformou em escravos de Jesus Cristo, pois fomos com­prados por Ele por um preço infinitamente caro, o preço de seu Sangue.
Donde ele conclui que há três espécies de escravidão:
1ª) por natureza (todas as criaturas são escravas de Deus);
2ª) por constrangimento (os demônios e os réprobos são escravos de Deus desse modo);
3ª) e outra por livre e espontânea vontade (como a dos justos e dos santos para com Deus).
Essa escravidão voluntária é a mais perfeita e agradável a Deus. Pois, “nada há que mais absolutamente nos faça perten­cer a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima do que a escravidão! voluntária, conforme o exemplo do próprio Jesus Cristo, que, por nosso amor, tomou a forma de escravo [...] e da Santíssima Virgem, que se declarou a escrava do Senhor” (n.72).

Vantagens desta devoção para a vida espiritual

Imagem de Nossa Senhora na Igreja de Saint Laurent sur Sevre
São Luís Grignion enumera as vantagens desta devoção para a vida espiritual.
Esta devoção é recomendável porque:
1°) nos põe inteiramente ao serviço de Deus;
2°) nos leva a imitar o exemplo dado por Jesus Cristo, e a praticar a humildade;
3°) nos proporciona as boas graças da Santíssima Vir­gem (Maria se dá a quem é seu escravo por amor, e purifica nossas boas obras, embeleza-as e as torna aceitável a seu Filho);
4°) é um meio excelente de promover a maior glória de Deus;
5°) conduz à união com Nosso Senhor (é um caminho fácil, curto, perfeito, seguro);
6°) dá uma grande liberdade interior;
7°) nosso próximo aufere grandes bens desta devoção (pois que lhe damos, pelas mãos de Maria, o que temos de mais caro, isto é, o valor satisfatório e impetratório de todas as nossas boas obras, sem excetuar o menor dos bons pensa­mentos e o mais leve sofrimento; é o meio de converter os pecadores sem temer a vaidade, e de livrar as almas do pur­gatório, sem fazer quase nada mais do que aquilo a que cada um está obrigado por seu estado);
8°) é um meio admirável de perseverança.

Relações entre a Santíssima Virgem e seus escravos

Depois o santo passa a falar das relações que se estabele­cem entre a Santíssima Virgem e seus escravos por amor:
1ª) Ela os ama;
2ª) Ela os mantém;
3ª) Ela os conduz;
4ª) Ela os defende e protege;
5ª) Ela intercede por eles.

Efeitos maravilhosos desta devoção

Por sua vez, são maravilhosos os efeitos que esta devo­ção produz numa alma fiel:
1°) Conhecimento e desprezo de si mesmos;
2°) Participação da fé de Maria;
3°) Graça do puro amor;
4°) Grande confiança em Deus e em Maria;
5°) Comunicação da alma e do espírito de Maria;
6°) Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo;
7°) A maior glória de Jesus Cristo.

Práticas exteriores e interiores desta devoção

Após falar das práticas exteriores dessa devoção, o santo doutor marial mostra que o mais importante são as práticas interiores por ele recomendadas:
1ª. Fazer todas as ações por Maria: “É preciso fazer todas as ações por Maria, quer dizer, em todas as coisas obe­decer à Santíssima Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito, que é o santo espírito de Deus” (n.258).
2ª. Fazer todas as ações com Maria: “Em todas as ações olhar Maria como um modelo acabado de todas as virtudes e perfeições, que o Espírito Santo formou numa pura criatura, e imitá-la na medida de nossa capacidade” (n.260).
3ª. Fazer todas as ações em Maria: “Para compreender cabalmente esta prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem é o paraíso terrestre do novo Adão [Jesus Cristo], de que o antigo paraíso é apenas figura” (n.261).
4ª. Fazer todas as ações para Maria: “Porque, desde que nos entregamos completamente a seu serviço, é justo que façamos tudo para Ela, como um criado, um servo, um escravo” (n.265).

Conclusão

Quem praticar verdadeiramente esta devoção, unindo-se à Santíssima Virgem do modo preconizado por esse grande missionário, atingirá sem dúvida a santidade.
Entretanto, São Luís Maria não o espera de todos os que abraçarem esta devoção. Diz ele que “o essencial desta de­voção consiste no interior que ela deve formar e, por este motivo, não será igualmente compreendida por todo o mun­do. Alguns hão de deter-se no que ela tem de exterior, e não passarão avante, e estes serão o maior número; outros, em número reduzido, entrarão em seu interior, mas subirão ape­nas um degrau. Quem alcançará o segundo? Quem se eleva­rá até ao terceiro? Quem, finalmente, se identificará nesta devoção? Aquele somente a quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este segredo. Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel, fazendo-a progredir de virtude em virtude, de gra­ça em graça, e de luz em luz, para que ela chegue a transfor­mar-se em Jesus Cristo, e atinja a plenitude de sua idade sobre a Terra e de sua glória no Céu” (n.119).
Desejamos de todo coração que nossos leitores e nós mesmos possamos ser incluídos entre esses privilegiados.
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Notas:
  1. Pe. Louis Perouas, San Luis Maria Grignion de Montfort, Obras, Bibli­oteca de Autores Cristianos, Madri, 1984, Introdução, p. 11.
  2. Circular aos Propagandistas de Catolicismo, 1951.
  3. Apud Louis Le Crom, São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Civilização, Porto, 2010, p. 322.
  4. Louis Perouas, op. cit., p. 35.
  5. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes, Petrópolis, 1961, Introdução, pp. 12 e 13. Todas as citações da obra são desta edição, figurando no fim de cada parágrafo o número do tópi­co citado.
  6. Louis Le Crom, op. cit. p. 505.
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