quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Autor da Vida é gerado no Ventre Materno

 
    Uma das mais belas profissões de fé do cristianismo é a Encarnação, ou seja, que “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Um Deus apaixonado, que na radicalidade do seu amor, “esvaziou-se a si mesmo... tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6), “em todas as coisas, menos no pecado” (Hb4,15). Deus Filho, permanecendo Deus, assume toda a fragilidade da carne humana e “nasceu de uma mulher” (Gl 4,4).
    Quem de nós, se pudesse escolher uma mãe para dela nascer, não escolheria a melhor de todas? Pois bem, Deus Pai escolhe para o Filho a melhor de todas as moradas; mas o melhor para Deus, nem sempre é igual aquilo que julgamos ser o melhor: Deus escolheu para ser Mãe de seu Filho uma jovem tão pobre que vai dar à luz em um estábulo (Lc 2,7). Essa jovem era tão pobre que morava em uma cidade tão pequena que nem constava nos registros da época e que era tão desprezada que as pessoas se perguntavam: “De Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo1,46).
    “O nome da virgem era Maria” (Lc 1,27), uma menina tão jovem que, provavelmente, tinha entre doze e treze anos (idade na qual era costume se noivar). Ela devia ser tão mirradinha quanto qualquer criança pobre dos países subdesenvolvidos. Mas ela havia “encontrado graça diante de Deus” (Lc 1,30). Hoje, na idade dela, existem tantos jovens irresponsáveis e inconseqüentes, mas a pobre Mariazinha, com tão pouca idade já sentia todo o peso do mundo sobre seus ombros, de seu sim dependia a salvação da humanidade:
    — “Eis que você vai ficar grávida – anuncia-lhe o anjo Gabriel – terá um filho e dará a ele o nome de Jesus. Ele será chamado filho do Altíssimo. O Senhor dará a Ele o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre os descendentes deJacó. E o seu reino não terá fim” (Lc 1,31ss)
    — “Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?” (Lc 1,34) – pergunta Maria ao anjo.
    — “O Espírito Santo virá sobre você, e a força do Altíssimo a cobrirá com sua sobra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus” (Lc1,35).
Como não temer? Como não fugir diante de fato tão extra-ordinário? Porém, Maria, cheia de coragem e maturidade, responde humildemente:
    — “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Pelo sim de Maria, “abriram-se as comportas do Céu” e o Eterno entrou no tempo. Em segredo, o Menino Deus era tecido no ventre imaculado de Nossa Senhora. A Segunda Pessoa da Trindade Santa, Deus Imenso como o Pai e o Espírito Santo, encerrava-se todo inteiro em uma ínfima célula humana! Tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequeno. Todo-poderoso e tão frágil. Tão humano e tão divino. Um ser que não era sujeito ao tempo e ao espaço, mas quis neles habitar...
    Se de Deus Pai, Jesus herdava todos Seus tributos divinos: onipotência,onisciênciaonipresença, eternidade, imortalidade, santidade... de Maria, lhe vem a herança genética: cada célula, cada fibra, cada fio de cabelo, cor dos olhos, tiposangüíneo, toda fragilidade humana... a carne de Jesus é a carne de Maria!
    Todo o processo de gestação de Jesus seguiu o processo natural, exceto pelo fato de não ter participação de sêmen humano “porque ela concebeu pela a açãodo Espírito Santo” (Mt 1,20). Encerrava-se o Rei dos Reis em uma única célula tão pequena que mal daria para ver a olho nu! E durante os próximos nove meses, o ventre de Nossa Senhora, seria o Seu Templo, onde habitaria plenamente, o primeiro Sacrário, o Santo dos Santos...
    À medida que o tempo vai passando essa única célula se divide: duas, quatro, oito... aderindo ao útero mariano o embrião do Divino Redentor é nutrido pela Virgem Mãe. Pouco a pouco surge o formato da sagrada cabeça, que, posteriormente, será coroada de espinhos pelos soldados, e a espinha, que será açoitada pelo flagelo...
    Na quarta semana, surgem as cavidades as quais originaram os santos ouvidos, que escutarão tantas blasfêmias na Cruz, mas também tantos gestos de fé. Os olhinhos rudimentares se desenvolvem em forma de talinhos e também assim é o coração sagrado, nessa fase, um coração que será “manso e humilde” (Mttranspassado pela lança do soldado e de onde sairá sangue e água (Jo 11,29), um coração que também será 19,34).
    Na quinta semana, as orelhinhas são visíveis, cavidades marcam a posição de onde será o sacro narizinho. Na sexta semana, surgem as primeiras feições da sagrada face, a mesma que se estampará no véu de Verônica, a mesma que será tão espancada e maltratada. Surgem os dedinhos das mãozinhas e dos pesinhos.
    Com oito semanas, o Deus que se tornou semente de homem já media cerca de 2,5 cm e devia pesar por volta de dois gramas. Ele brotava no silêncio do ventre virginal, quase que imperceptível. Era modelado pelas mãos do Pai, tecido no seio materno fibra por fibra: o corpo já era todo revestido de nervos e, pela primeira vez em toda eternidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade haveria deexperimentar as primeiras sensações táteis, sentir o carinho da Mãe! Dois seres, uma só vida; o que a Mãe sente, o Filho sente; Aquele que seria o Alimento de nossa alma era agora alimentado pela frágil virgenzinha... Aquele que é Todo-poderoso, agora, precisa dos cuidados maternos...
    No quarto mês de gestação a Menina Mãe já apresentava visíveis feições de grávida, e o Verbo de Deus já possuía audição e, do interior do ventre mariano, Jesus já era capaz de escutar as batidas do coração materno, que soavam como que uma doce e intensa percussão a qual embalava seu sono. Já era também capaz de ouvir vozes abafadas que vinham do mundo exterior: vozes dos parentes, amigos, vizinhos, a voz grave de São José e a fala suave de Sua Mãe...
    No sexto mês, o Jesus Bebê ainda não nascido, já sorri e chora, sente o gosto e o cheiro do líquido no qual está envolto, escuta perfeitamente as vozes de fora, e até gosta de música. Os olhinhos já distinguem o claro e o escuro e toda uma gama de sensações nunca antes experimentadas são vividas pelo Deus Menino. Já é possível sentir o Pequeno Grande se movendo, “chutando”. “Bendita entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre!” (Lc 2,42) diz santa Isabel a Maria, e nós repetimos na oração da Ave-Maria.
    O tempo passa e “enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu primogênito” (Lc 2,6s). Eis que nasce o Menino Deus, entre gritos e choro... após passarem sal em sua pele para revigorá-lo e o enfaixarem (Lc 2,7) de modo bastante apertado para que os membros cresçam perfeitos, a doce Mãe de Deus O tomou nos braços e alimentava com o leite puro de seus seios virginais Aquele que seria o Alimento de todos nós na Eucaristia!
    Entre lágrimas de alegria e cansaço físico, Nossa Senhora estava encantada com a magia daquele momento: aquelas mãozinhas tão pequenas, aqueles olhinhos tão miudinhos e cheios de pureza, aquele corpinho tão frágil e inocente... quem poderia imaginar que aquele anjinho tão delicado, enfaixado em simples panos e deitado em uma humilde manjedoura, era o Deus Todo-poderoso? O mesmo Deus de Abraão, Isaac e Jacó... cumpriu-se em Maria aquilo que o Espírito Santo falou por meio do profeta Isaías: “Eis que a virgem concebe e dá à luz a um filho” (Is 7,14).
    E desde então, por toda vida Maria iria cuidar de Jesus. Foi Ela quem esteve ao Seu lado quando o Menino Deus começou a engatinhar. Foi Ela quem estava lá quando o Divino Infante deu seus primeiros passinhos. Foi Ela que, com o coração aflito, O levantava e cuidava de seus machucados, após Suas quedas. Era ela quem acordava à noite para amamentá-lo, quem ficava, aos pés da cama, cuidando da Criança divina quando estava doente e foi por Ela que o Filho chamou, por primeiro, quando aprendeu a falar: “mamãe”!
    Foi de Maria que Deus Onisciente aprendeu a ser humano, a viver como humano, a pensar como humano... suas primeiras noções sobre a Lei, sobre ética, justiça, amor. Foi por reconhecer o papel de Maria na educação de Jesus que, certa vez, uma mulher gritou no meio da multidão para Jesus: “Feliz o ventre que te carregou e os seios que te amamentaram!” (Lc 11,27). E vamos percebendo que a vida de Jesus se entrelaça com a nossa, as experiências vividas por ele são semelhantes as nossas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário