segunda-feira, 6 de março de 2017

A Quaresma: seu sentido, sua observância

Dom Henrique Soares da Costa
Trata-se, a Quaresma, de um período de quarenta dias. Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, prolongando-se até a Quinta-feira Santa, antes da Santa Missa na Ceia do Senhor. É um tempo privilegiado de conversão, combate espiritual, jejum e escuta da Palavra de Deus. Na Igreja Antiga, este era o tempo no qual os catecúmenos (adultos que se preparavam para o Batismo) recebiam os últimos retoques em sua formação para a vida cristã: eles deveriam entregar-se a uma catequese mais intensa e aos exercícios de oração e penitência. Pouco a pouco, toda a Comunidade cristã – isto é, os já batizados em Cristo -, começou a participar também deste clima, tanto para unir-se aos catecúmenos, como para renovar em si a graça de seu próprio batismo e o fervor da vida cristã, preparando-se, assim, para a santa Páscoa. Deste modo, surgiu a Quaresma: tempo no qual os cristãos, pela purificação e a oração, buscam renovar sua conversão para celebrarem na alegria espiritual a Santa Vigília de Páscoa, na madrugada do Domingo da Ressurreição, renovando suas promessas batismais.
Sendo um tempo de combate espiritual, a Quaresma tem suas práticas peculiares:
(1) A oração: neste tempo os cristãos se dedicam mais à oração. Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os mais generosos, rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se, também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras!
(2) A penitência: todos os dias quaresmais (exceto os domingos) são dias de penitência. Cada um deve escolher uma pequena prática penitencial para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou a uma sobremesa, etc… A penitência quaresmal tem como finalidade nos disciplinar, fortalecer-nos contra os vícios e nos unir a Cristo no mistério da sua cruz. Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos jejuam: o jejum nos faz recordar que somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus, devendo ser vivida em união com ele. Os mais generosos podem jejuar todas as sextas-feiras da quaresma. Farão muitíssimo bem! Recordem-se os católicos que, às sextas-feiras, não devem comer carne; e isto vale para o ano todo!
(3) A esmola: trata-se da caridade fraterna. Este tempo santo deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola, capacidade de ajudar, visitar os doentes, aprender a escutar os outros, reconciliar-se com alguém de quem estamos afastados – eis algumas das coisas que se pode fazer neste sentido! Neste ano, a Igreja no Brasil lembra-nos o tema da nossa relação com o dinheiro: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
(4) A leitura da Palavra de Deus: este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra: o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de Deus. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Evangelho de São Lucas. Também como leitura espiritual, é muito aconselhável tomar um bom livro que trate das coisas de Deus e de nossa união com ele. Poderia ser “O céu começa em você”, do Anselm Grün.
(5) A conversão: “Eis o tempo da conversão!”, diz-nos São Paulo. Que cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar, combatê-lo nesta quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de “combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos vícios, nossas más tendências, que precisam ser combatidas. Os antigos davam o nome de sete demônios principais: a soberba, a avareza, a tristeza (hoje diz-se a inveja), a preguiça, a ira, a gula, a sensualidade. Estes demônios geram outros. Na quaresma, é necessário identificar aqueles que são mais fortes em nós e combatê-los!
Este tempo sagrado é marcado também por alguns sinais especiais nas celebrações da Igreja: A cor da liturgia é o roxo – sinal de sobriedade, penitência e conversão; não se canta o “Glória” nas missas (exceto nas solenidades, quando houver); não se canta o “Aleluia” que, é sinal de alegria e júbilo. Os cantos da missa devem ter uma melodia simples; não é permitido que se toque nenhum instrumento musical, a não ser para sustentar o canto, em sinal de jejum dos nossos ouvidos, que devem ser mais atentos à Palavra de Deus; não é permitido usar flores nos altares, em sinal de despojamento e penitência (nos casamentos e outras festas, as igrejas devem ser enfeitadas com muita sobriedade!); a partir da quinta semana da quaresma podem-se cobrir de roxo ou branco as imagens, em sinal de jejum dos sentidos, sobretudo dos olhos.
O importante é que todas estas práticas nos levem a uma preparação séria e empenhada para o essencial: a Páscoa! As observâncias quaresmais não são atos folclóricos, mas instrumentos para nos fazer crescer no processo de conversão que nos leva ao conhecimento espiritual e ao amor de Cristo. Tenhamos em vista que o ponto alto do caminho quaresmal é a renovação das promessas batismais na Santa Vigília pascal e a celebração da Eucaristia de Páscoa nesta mesma Noite Santa, virada do sábado para o Domingo da Ressurreição.
Que todos católicos possam ter uma intensa vivência quaresmal, para celebrarmos na alegria espiritual a Santa Páscoa do Senhor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário